Lula diz que faz ''visita de irmão'' a Gana

12/04/2005 - 22h04

Mylena Fiori
Enviada especial

Acra (Gana) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que "visitar Gana é mais do que uma visita política, é mais do que uma visita de chefe de Estado – precisa ser encarada como uma visita de um irmão, de um companheiro que faz parte de um povo que deve parte da sua cultura e parte do que o Brasil é hoje ao povo de Gana". Antes dos encontros com o presidente John Kufour e das reuniões em paralelo dos ministros dos dois países, Lula saudou as autoridades destacando como parte da herança africana a feijoada, a alegria e o samba.

A visita, com menos de 24 horas de duração, acontece num momento de intensificacao da cooperação e do intercâmbio econômico-comercial entre os dois países. Desde 2003, Gana é o quarto importador de produtos brasileiros na África subsaariana, atrás de África do Sul, Nigéria e Angola. O comércio bilateral cresceu 600% em dois anos, passando de cerca de US$ 30 milhões, em 2002, para cerca de US$ 170 milhões em 2004, impulsionado pela II Reunião da Comissão Mista Brasil-Gana, realizada em Brasília em agosto do no passado, quase 18 anos após o primeiro encontro do gênero.

Para impulsionar os negócios entre os dois paises, foi assinado na tarde desta terça-feira acordo bilateral para estabelecimento de linhas aéreas entre Brasil e Gana. Também foi assinado acordo sobre consultas políticas. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, informou que foi concluido, no Brasil, acordo que prevê transferencia de recursos para restauração da Brazil House, em Acra. A residência, construída no início do século XIX pela comunidade dos Tabom, que reúne famílias de descendentes de escravos brasileiro-ganenses retornados à África, é considerada importante símbolo dos laços históricos e culturais que unem o Brasil à África. Segundo o Itamaraty, o projeto de restauração tem custo estimado de US$ 200 mil, e será financiado conjuntamente pelos governos do Brasil e de Gana, com a contribuição da empresa Tintas Coral.

No final da tarde, o presidente foi homenageado pelos Tabom em uma cerimônia festiva que durou quase duas horas. A recepção, chamada de Durbar, simboliza o afeto, o respeito e a admiração do clã ao homenageado. Ao som de atabaques e diante de danças tipicas, Lula e o rei dos Tabom, Nii Azuma 5º, trocaram presentes e saudações. Lula ofereceu ao rei um trono feito por encomenda em Gana, com a bandeira brasileira na parte traseira do encosto. E ganhou três presentes que simbolizam a passagem à condição de chefe da nação Tabom: uma bata denomina batakari (que lembrava a camisa dos jogadores do time paulista do Corinthians), o kenté (traje típico africano multicolorido) e sandálias. O ritual de boas-vindas terminou com danças entre os ministros brasileiros e africanos. Em discurso de agradecimento, Lula afirmou: "A beleza desta cerimênia e a alegria deste reencontro ficarão para sempre marcados em minha memória". Aos jornalistas, comentou: "É como se estivesse no Brasil."

Em seguida, o presidente brasileiro foi homenageado com banquete oferecido pelo presidente de Gana no Centro Internacional de Conferências. Amanhã (13), Lula inaugurará a Câmara de Comércio Brasil-Gana e seguirá para Guiné-Bissau.