Cruz Vermelha inicia obras de saneamento básico na maior favela da capital do Haiti

19/02/2005 - 14h01

Christiane Peres
Da Agência Brasil

Brasília - O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) no Haiti iniciou um projeto de saneamento básico na Cité Soleil, maior favela da capital do país, Porto Príncipe. A proposta surgiu após o acirramento dos confrontos armados – desde a queda do presidente Jean Bertrand Aristide em fevereiro de 2004 – e pelas chuvas que inundaram parte da região no ano passado.

O chefe da delegação do CICV no Haiti, o chileno Felipe Donoso, explica que o objetivo da intervenção em Cité Soleil com as obras de saneamento é responder às necessidades humanitárias da população. "Há uma necessidade humanitária muito forte em Cité Soleil por causa da problemática da violência armada e da violência política. Além disso, precisamos fortalecer a Cruz Vermelha haitiana, para que ela atue e trabalhe as diferenças da sua gente nos sítios mais desfavorecidos da região."

Em junho de 2004, o CICV identificou a necessidade de recuperar o maior sistema de distribuição e descontaminação de água das áreas próximas a Cité Soleil. Cerca de 350 mil pessoas dos 19 distritos de Bellecourt e Soleil serão beneficiados pelas obras. Segundo Donoso, as obras só tiveram início após alguns meses de encontros com moradores e líderes dos grupos armados da favela. "Por questões até de segurança, precisávamos obter a confiança de todos. E quando digo todos, me refiro à população e aos grupos armados que precisavam ter confiança no CICV. Eles tinham que ver que o objetivo do nosso trabalho era unicamente humanitário."

Presente na maioria dos conflitos armados e situações de guerra no mundo, a Cruz Vermelha é defensora do direito humanitário. Essa legislação internacional foi definida pela Convenção de Genebra, ao final da Segunda Guerra Mundial, e pretende proteger pessoas que estão fora dos conflitos, como civis, feridos e prisioneiros.

Donoso diz que a situação em Cité Soleil ainda é preocupante, mas melhorou desde o início da atuação das tropas da Missão de Paz das Nações Unidas (Minustah) no país, em junho do ano passado. Numa comparação com as favelas brasileiras, o chefe do CICV no Haiti lembra que o maior problema na região é a violência. "Como no Brasil, que existem muitas favelas, a violência aqui não é diferente. A violência armada é uma dificuldade porque traz insegurança", afirma.

Para implementar o projeto, Donoso diz que, além da população, é preciso envolver as autoridades locais. "Essa é outra dificuldade. Sabemos que eles têm limitações, mas podemos ajudar. É muito fácil fazer um projeto de saneamento em Cité Soleil e depois ir embora. Qualquer um pode fazer isso. O mais difícil é você se propor a fazer uma coisa e mantê-la a longo prazo, com a adesão e apoio da sociedade e das autoridades."

A situação que vive o país impede Donoso de determinar um prazo para o término das obras em Cité Soleil. Além disso, ele acredita que o acesso ao saneamento básico e à água potável será um ponto importante para que a população local não se sinta abandonada e tenha condições mais dignas para sobreviver.