Spensy Pimentel
Enviado especial da Radiobrás a Manaus
Manaus – "Sabemos que, a médio prazo, não dá para a humanidade viver sem soja. Por isso, o que nos resta é evitar a expansão desenfreada e sem governança que está acontecendo hoje." A avaliação é do engenheiro florestal Nilo Dávila, coordenador de projetos no Amazonas da ONG internacional Greenpeace.
Dávila participou de reunião promovida pela Comissão Pastoral da Terra do Pará e a Cáritas, duas entidades ligadas à Igreja Católica, durante o 4º Fórum Social Pan-Amazônico. "Nós já conhecemos a capacidade da cultura da soja de se estabelecer em qualquer lugar do planeta para não sair depois. É uma coisa que acontece de forma tão padronizada que, você pode até ganhar hoje uma batalha aqui, mas depois perde em outro lugar. O que precisamos é criar alternativas futuras, mas elas ainda não existem", afirma.
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O engenheiro define a atual implantação da cultura da soja na região amazônica como "o maior experimento ao ar livre do mundo". "Não há nenhum estudo prévio de viabilidade econômica e ambiental", explica.
Para Dávila, o que mais preocupa é que a expansão da soja na Amazônia aconteça sem o devido "contraponto do governo". "As comunidades estão sendo expulsas, há denúncias de grilagem. Daqui a pouco, esses grandes produtores rurais já estarão controlando completamente
muitas cidades. E não se estimulam alternativas para as comunidades tradicionais, como a extração de castanha e borracha, ou a agricultura familiar."
Ele explica que há diversas pesquisas sendo iniciados para determinar aspectos do impacto da soja na Amazônia. Segundo Dávila, a ONG The Nature Conservancy desenvolve em parceria com a multinacional do setor agrícola Cargill um estudo para desenvolver "padrões de produção de soja de baixo impacto". Ele também menciona um estudo da ONG WWF (World Wildlife Fund)
para estabelecer "critérios de compra" e um outro da fundação brasileira Cebrac (Centro Brasileiro de Referência e Apoio Cultural) sobre "critérios de compra e produção".