Ellis Regina
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) disse hoje que está surpreso com as denúncias, publicadas pelo Correio Braziliense, sobre a existência de documentos que comprovariam a movimentação de cerca de US$ 3 milhões, no período de 1998 a 2003, em sua conta particular no Delta Bank de Miami. O dinheiro, de acordo com as denúncias, teria sido remetido por uma rede clandestina de doleiros brasileiros e uruguaios que têm contas na agência do Banestado de Nova Iorque.
Suassuna afirmou que "não tem nada a esconder" e que suas contas são declaradas ao Banco Central. "Surpreendeu-me muito. Surpreendeu-me mais ainda a descrição de uma sala em que eu, como membro da CPI, nunca entrei e em que 99% dos membros da CPI não entraram", disse o senador. De acordo com a matéria do Correio, os documentos teriam sido encontrados em uma pasta, numa sala secreta do subsolo do Senado, e seriam de conhecimento do relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Banestado, deputado Jose Mentor (PT-SP).
"É incrível que continue havendo vazamento da CPI", lamentou Suassuna. Segundo o senador, as denúncias podem estar sendo usadas como meio de fragilizar o PMDB, quando o partido passa por um momento de indecisão. "É complicado que isso surja num momento em que o PMDB está se colocando". O partido, que compõe a base aliada do governo, definiu a data da próxima convenção para decidir se continua a integrar a base de sustentação do governo no Congresso Nacional.
"A CPI não pode continuar, a toda hora, sendo usada para explodir isso, gerar crise ali, isso não constrói", queixou-se Suassuna. O senador não descartou a hipótese de o relator da CPMI estar envolvido nas denúncias. "Tem muitas coisas estranhas nessa matéria. Está tão jogado para ele (Mentor) que a gente começa a duvidar. É como aquele negócio de novela: Quando você bota todos os indícios para um, às vezes, não é ele", observou.
O presidente da CPMI do Banestado, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), por sua vez, disse que não pode assegurar se os documentos que supostamente incriminam Suassuna saíram dos arquivos da comissão. "Não vou negar, mas também não posso assegurar, nem tenho a convicção de que isso tenha ocorrido". Ele ressaltou que é necessário "agilizar" a retomada dos trabalhos normais da CPMI.
A CPMI do Banestado foi criada para investigar a evasão de divisas por intermédio de contas
CC-5 (que permitem a brasileiros enviar recursos para o exterior). O suposto vazamento de informações sigilosas colocou os trabalhos da comissão sob suspeita e abriu uma crise entre o relator e o presidente da comissão. Com a crise, as reuniões da CPMI foram canceladas reiteradas vezes. Desde agosto, a comissão não realiza audiências com deliberações sobre as investigações.