Especial 3: Sem-terra apóiam programa e temem que pressões levem biodiesel a beneficiar latifúndio

10/11/2004 - 15h01

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) acredita que o biodiesel é um tema "extremamente relevante e importante para o conjunto da sociedade brasileira", segundo afirma Ciro Eduardo Corrêa, do setor de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST.

Segundo Corrêa, se for bem conduzido e discutido com os movimentos sociais, como as associações e cooperativas de famílias do campo, o biodiesel poderá ser uma alternativa em diversas formas. "Para levar energia às comunidades mais distantes das cidades – da rede de energia elétrica convencional –, um dos mecanismos é transportar energia na forma de biodiesel. Há, também, a importância de gerar alternativas para produção – já que se tem que produzir a matéria-prima por meio de culturas que podem ser bem adaptadas a diversos biomas brasileiros, de acordo com a realidade de cada um", explica.

Corrêa diz que é preciso atenção para o modelo de produção de biodiesel a ser adotado no país, tendo em vista o ocorrido na época do Próalcool, programa criado nos anos 70 para beneficiar a agricultura familiar, mas que, no meio do caminho, passou a beneficiar os grandes proprietários de terra e industriais do setor sucroalcooleiro.

"O que determinará se a proposta vai servir aos pequenos agricultores e assentados ou se vai servir novamente às grandes indústrias do agronegócio é a forma como será conduzido o processo. Existe um grande risco de reproduzirmos modelos que vão chegar perto do antigo Proálcool, que acabou fortalecendo os latifúndios, principalmente no Nordeste, prevalecendo o uso de trabalho escravo, a exploração do capital sobre o trabalho e um forte impacto ambiental", diz.

"Por mais que o governo tente sinalizar com um trabalho coordenado pelo MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e pela SAF (Secretaria de Agricultura Familiar) e outras ações, existe o risco, porque há muitos governos estaduais, municipais e empresas privadas potentes que estão tentando trabalhar nessa área", acrescenta.

"Existe o risco de se criar uma nova ‘vedete’, uma nova corrida atrás da mamona, do girassol e da própria soja. Isso pode desencadear um processo que venha a frustrar", ressalta, referindo-se à expansão das grandes plantações de cana na época do Próalcool.