Para Ricupero, participação de Lula na ONU credencia Brasil para o Conselho de Segurança

23/09/2004 - 15h39

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A pedido da Agência Brasil, o embaixador brasileiro Rubens Ricupero fez um balanço, nesta quinta-feira, da viagem do presidente Lula aos Estados Unidos. Em Nova York, o presidente liderou o encontro da Ação Mundial Contra a Fome e a Pobreza e foi o primeiro a discursar na Assembléia Geral das Nações Unidas. "Ele (o presidente) chamou a atenção para os problemas de desenvolvimento e pobreza num momento em que há uma tendência de se concentrar apenas em questões como terrorismo e Iraque", avalia Ricupero.

"Embora eu saiba que o objetivo foi realmente social, não há dúvida de que essa ação mostrou capacidade de liderança e contribuiu para credenciar ainda mais o Brasil para um posto no Conselho de Segurança, em caráter permanente", afirma.

Durante nove anos, o embaixador e ex-ministro da Fazenda esteve a frente da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Até o início de 2005, ele deixa Genebra, na Suíça, e volta para o Brasil, onde espera reassumir a carreira acadêmica em instituições como a Universidade de Brasília e o Instituto Rio Branco. Como secretário-geral da Unctad, Ricupero organizou, em junho deste ano, a primeira reunião da Unctad no Brasil, e o mais importante evento internacional no país desde a Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, a Rio-92. Em São Paulo, boa parte das propostas levadas para o encontro da Ação Mundial Contra a Fome e a Pobreza foram debatidas.

Para o embaixador, é natural que países como os Estados Unidos se mantenham contrários a fórmulas alternativas de arrecadação de recursos que incluam a taxação de transações financeiras, como propõe o documento da Ação, apresentado esta semana em Nova York. "É uma posição tradicional dos Estados Unidos. Eles não são contra o espírito da campanha do presidente Lula. O fato é que, até internamente, os norte-americanos procuram reduzir a carga de impostos", explica Ricupero. Na análise do economista, o mais importante é o esforço que agora está sendo feito para encontrar fontes de financiamento para o combate à pobreza no mundo.

"As soluções, talvez, possam vir de campos ainda não estudados. Penso, por exemplo, em algo vinculado ao consumo excessivo de combustíveis, que contribui para o aquecimento da atmosfera", conta o embaixador. "Nesse domínio, todos os países já têm mecanismo de taxação. Não seria necessário criar um mecanismo totalmente novo. As condições dos países variam muito. Até agora, não encontramos um mecanismo que pode ser aplicado por todos os países."