Para professor da Unicamp, taxa sobre comércio de armas esbarra em problema ético

23/09/2004 - 11h03

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo - A criação de uma taxa sobre o comércio de armas para combater a fome e a pobreza no mundo esbarra em um problema ético. Mais possível e eficiente seria taxar as transações financeiras internacionais. A análise é do professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Mário Presser. "Não tenho muita simpatia por criar um imposto sobre o comércio de armas e sim por baní-lo (comércio de armas). O imposto seria mais interessante sobre as transações financeiras".

"Um imposto sobre o comércio de armas pode levar a problemas éticos muito semelhantes ao famoso imposto sobre o cigarro: acabava trazendo muito dano à saúde e você não pode diminuir a sua produção porque o Estado acaba adquirindo interesses fiscais nesse tipo de comércio. Por outro lado, um pequeno imposto sobre as transações financeiras internacionais me parece mais factível e aceitável do ponto de vista ético", explica o professor.

O grupo de trabalho formado por Brasil, Chile, França, Espanha e Nações Unidas apresentou relatório final, depois de oito meses de trabalho, durante a reunião de líderes mundiais para a Ação Contra a Fome e a Pobreza realizada esta semana, em Nova York, nos Estados Unidos.

No documento, o grupo sugere mecanismos capazes de reunir recursos para promover o desenvolvimento dos países e combater a fome. Entre os principais mecanismos, o grupo propôs taxação sobre transações financeiras e o comércio de armas, a criação do Mecanismo Financeiro Internacional (que se baseia no lançamento de títulos), o controle de evasão de divisas para paraísos fiscais e contribuições voluntárias em cartão de crédito.

Para a professora de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Aquino, uma taxa sobre vendas de armamentos é até mesmo "necessária", mas não poderia resolver o principal da questão: as desigualdades entre os países. "É preciso mexer fundamentalmente nas relações desiguais entre os países, ir fundo na questão, o que significa mexer no Fundo Monetário Internacional (FMI)".

Segundo a historiadora, o modelo vigente sobrecarrega os países em desenvolvimento, impedindo ações de inclusão social e combate à pobreza. "É preciso que os países ricos reconheçam o dito popular - ‘melhor perder os anéis do que perder os dedos’. Eles (os países ricos) estão apostando em perder os dedos. Se não entenderem isso, que é melhor você não matar o seu escravo de tanto trabalhar, porque você o terá como escravo por mais tempo, realmente essa situação não vai mudar", afirmou.