Caio d'Arcanchy
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A população da cidade de Gonaïves, a 110 Km da capital do Haiti, Porto Príncipe, ainda sente as conseqüências da tempestade tropical Jeanne. As autoridades locais confirmam que há pelo menos mil mortos. Outros mil permanecem desaparecidos. A tempestade alagou cerca de 80% da cidade de 200 mil habitantes, e quase toda a população está desabrigada. De acordo com informações do chefe da Missão de Estabilização das Nações Unidas (Minustah) no Haiti, general Augusto Heleno Pereira, as pessoas estão desorientadas e sem ação.
"Eu encontrei a população num estado deplorável. Eles andam pelas estradas sem destino, nos dois sentidos. Mas não vi nessas pessoas sinais de desespero, eu vi aquele semblante de muita tristeza, as pessoas andando simplesmente", descreve o general em entrevista por telefone à Agência Brasil.
A maior preocupação das tropas é evitar que as pessoas consumam água de origem desconhecida, já que há muitos animais e pessoas mortas submersos. O general Augusto Heleno diz que é muito difícil transmitir essa informação, porque a maioria das pessoas perdeu tudo, inclusive aparelhos de rádio, veículo de comunicação mais forte no país. Outra dificuldade, de acordo com o general, é que não há condições de suprir as necessidades dos desabrigados. "Entre morrer de sede ou de fome a usar uma água contaminada, não há escolha", afirma.
A partir de amanhã cerca de 120 soldados uruguaios vão seguir para a cidade de Gonaïves e serão incorporadas ao contingente argentino encarregado de guardar a região. Os soldados uruguaios irão atuar prioritariamente na segurança dos postos de distribuição de suprimentos.
O Brasil participará com um pelotão formado por 30 soldados, que deverão chegar com 765 quilos de remédios, além de material de apoio para as tropas argentinas, que foram desfalcadas de viaturas, barracas e equipamentos de segurança. O material foi entregue hoje cedo na capital Porto Príncipe e segue de helicóptero até a manhã desta sexta-feira. O Ministério da Saúde do Brasil estima que os medicamentos sejam suficientes para 600 pacientes por um período de três meses.
O envio de soldados brasileiros em grande escala foi descartado "por enquanto" pelo comandante das tropas militares da ONU. "Fica difícil tirar tropas brasileiras de Porto Príncipe porque é uma área enorme que eu preciso manter um nível de segurança. Não posso tirar mais tropas daqui a menos que a situação saia de controle. Por enquanto, preferi enviar a tropa uruguaia porque a área onde eles atuam é considerada calma", explicou o general.