Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O esforço do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em criar mecanismos alternativos de financiamento para o combate à pobreza no mundo integra um conjunto de ações que buscam dar ao Brasil um papel de liderança nas questões internacionais. Essa é avaliação do professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Mário Presser, sobre a participação do presidente na 59o. Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, no início da semana.
"A política externa do presidente Lula tem tentado levar o país a um papel de liderança nas negociações internacionais sobre as questões do desenvolvimento. Percebemos que o Brasil já exerceu um papel de liderança nas negociações comerciais na Organização Mundial do Comércio (OMC)", avalia o professor, em referência às últimas negociações de comércio internacional. A partir de uma das reuniões para negociar acordos na OMC, ocorrida em Cancun (México) no ano passado, o Brasil articulou o chamado G-20, um grupo que congrega representantes dos principais países em desenvolvimento do mundo em torno de uma proposta para a liberalização do comércio de produtos agrícolas.
"Só para recordar, nos últimos anos tivemos um papel fundamental na aprovação de uma resolução favorável aos países em desenvolvimento na questão de propriedade intelectual e saúde pública", disse ele, em referência às conquistas do país pela liberação de patentes para países em desenvolvimento no caso de medicamentos contra o vírus da AIDS. "Elaboramos propostas alternativas às dos países desenvolvidos em agricultura, especialmente. Essas posições recentes do Brasil têm forçado importantes negociações na cena internacional", acrescentou.
Em seu discurso, durante a abertura da Assembléia Geral da ONU, o presidente Lula destacou que "o Brasil tem atuado nas negociações comerciais multilaterais para alcançar acordos justos e eqüitativos". Para o presidente, essas vitórias indicam um "grande passo para a eliminação de restrições abusivas que prejudicam os países em desenvolvimento".
Para Presser, a possibilidade de livrar milhões de pessoas da pobreza por meio das negociações no comércio internacional é possível, mas dependeria de alguns fatores. "A possibilidade existiria se algumas condições de liberalização extremamente generosas por parte dos países desenvolvidos fossem cumpridas e isso fosse suplementado por esquemas factíveis de financiamento, que permitissem aos países em desenvolvimento, inclusive, construir nova capacidade produtiva para aproveitar essas oportunidades de mercado. É tecnicamente e politicamente possível, mas não parece neste momento, nem do ponto de vista técnico nem do político, que haja recursos e vontade política para implementar esse tipo de medida", afirmou.
O professor da Unicamp analisou o acordo firmado no último dia 31 de julho para dar continuidade às negociações da chamada rodada Doha de negociações (em referência à cidade do Qatar que sediou reunião da OMC em 2001) como "não tão favorável assim" aos países em desenvolvimento. "O mérito desse acordo é que os países em desenvolvimento conseguiram evitar que saísse um acordo muito lesivo aos nossos interesses no curto, médio e longo prazo, do que propriamente tenha saído um acordo muito favorável aos países em desenvolvimento", observou.
"O que parece, na verdade, é que os países desenvolvidos definiram que vão manter um nível relativamente alto de protecionismo na agricultura, por exemplo, nos próximos dez ou quinze anos e em troca disso nos exigem concessões substanciais em acesso a mercados em áreas em que eles têm interesses ofensivos, como produtos de alta tecnologia, serviços, propriedade intelectual etc.", acrescentou.