Combate à fome é instrumento mais eficiente contra o terrorismo a longo prazo, afirma historiadora

23/09/2004 - 11h02

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Acabar com a fome e com a pobreza no mundo é a forma mais eficiente de combater o terrorismo a longo prazo. A análise é da professora de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP), Maria Aparecida Aquino. "Uma política (de combate à pobreza, fome e injustiça social) estabelecida claramente por todos os países do mundo sem dúvida seria o mais importante elemento contra o terrorismo em temos mundiais", disse.

A questão foi destacada na 59o. Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada na terça-feira (21), em Nova York. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu discurso de abertura do evento, destacou que "o necessário combate ao terrorismo não pode ser concebido apenas em termos militares". "Da crueldade não nasce o amor. Da fome e da pobreza jamais nascerá a paz", afirmou Lula.

Para a professora da USP, "se todos nos uníssemos e tivéssemos uma política concreta contra a fome e a pobreza no mundo inteiro – e é isso que ele (presidente Lula) está querendo dizer – não haveria mais espaço, em longo prazo, para coisas terríveis como o terrorismo, porque fundamentalmente a causa inicial do terrorismo internacional é exatamente a desigualdade e a injustiça social".

O professor do Instituto de Economia da Universidade de Campinas (Unicamp), Mário Presser, analisa a questão sob outro aspecto. Para ele, o terrorismo é provocado, sobretudo, por motivos culturais e religiosos.

"As relações entre terrorismo e pobreza não são tão lineares assim. O combate à pobreza ajuda muito na redução da violência e essa ajuda a manter uma ordem internacional mais pacífica. Quanto aos movimentos terroristas atuais – esses dos chechenos e da Al Qaeda – não me parece que estejam muito relacionados com pobreza e, sim, com outras questões mais difíceis de resolver", acrescentou, em referência aos aspectos culturais e religiosos.

O professor, no entanto, destaca a relação entre pobreza e violência. "Existe uma relação de causa e efeito muito notória entre pobreza e violência. É só notar que as regiões de grande pobreza no planeta são extremamente violentas. Essa violência contínua nessas regiões acaba criando um caldo de cultura favorável a todo o tipo de fundamentalismos desencadeando um estado muito próximo da barbárie", explicou.

O professor da Unicamp defende também a entrada de países não-militarizados no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). "O que temos hoje no conselho são países eminentemente guerreiros que têm preferência, dado o seu poder militar, às soluções de força em determinadas circunstâncias. Do ponto de vista do conjunto da humanidade, é extremamente oportuno que países pacíficos possam decidir sobre as questões de guerra e paz", explicou.