Cuiabá, 21/7/2004 (Agência Brasil - ABr) - A Reforma Universitária.é um tema polêmico que teve espaço durante a 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que termina amanhã na Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá. O professor João Cláudio Todorov, da Universidade de Brasília (UnB), disse que um texto torna a discussão mais concreta: "Antes das eleições , fomos convidados, juntamente com outras entidades, a fazer um plano para a reforma. Onde está este trabalho?"..
Esse texto foi apresentado ao ministro da Educação, Tarso Genro, que não compareceu ao evento. "Talvez o desafio seja transformar um projeto de campanha em material de governo", imagina Todorov.
Em outro simpósio sobre o mesmo tema, Luiz Davidovich, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), disse que a mobilização é a solução. Para ele, é necessário um pacto entre professores e estudantes para que a reforma aconteça.
Em 1968, Davidovich era um dos estudantes que foram às ruas pedir a reforma no ensino superior. Mas o governo militar entendia, segundo ele, que a formação universitária deveria ser voltada para as necessidades do mercado. Daí, surgiram a departamentalização, a criação do sistema de crédito de disciplinas, as restrições à autonomia, o aumento da burocracia e do número de instituições privadas, bem como a insuficiência de recursos. O incentivo à pesquisa, segundo Davidovich, foi, no entanto, um ponto positivo.
O professor alerta, que, no caso de uma reforma, deve-se estar atento para algumas questões: "Não podemos prejudicar o que já tem funcionado bem, caso da produção científica. Outro ponto delicado é a autonomia. Ela deve ficar distante de interesses religiosos, partidos, sindicatos e do próprio mercado. Além disso, não pode ser desculpa para o governo deixar de financiar as universidades públicas".
Outras iniciativas a serem propostas, segundo Davidovich, são mudanças no currículo, criando cursos com estrutura seqüencial de ciclos relativamente curtos e cursos flexíveis, que possibilitem a troca por outro, pelo aluno, ao descobrir nova vocação."Temos outros novos paradigmas que a universidade deve seguir, como acompanhar o desenvolvimento científico para proporcionar uma formação sólida e diversificada para os alunos", acrescenta.
Para Davidovich, o currículo deve se basear em grandes áreas do conhecimento. Além disso, a universidade deve disponibilizar oficinas de trabalho sobre temas atuais, para estudantes de todas as áreas do saber.
Ennio Candotti, presidente da SBPC, diz acreditar que promover as mudanças necessárias não será fácil. "A reforma será uma batalha pesadíssima. Desconfio que encontraremos mais espaço para dialogar se a universidade for mais aberta e mais interativa. Queremos dar aos nossos jovens a capacidade de julgar", afirma.
Para mudar - declara Candotti -será preciso lutar contra um jogo de interesses. "As coisas precisam mudar e, para isso, é preciso passar pelo Congresso, o que significa enfrentar lobbies e interesses. A discussão sobre esta atual Reforma estava muito centrada nas atividades estatutárias, como modo de gestão, autonomia e avaliação", diz Candotti, que sugeriu a entrada do tópico "Conteúdo e Programa".