Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Cuiabá – A pesquisa de novos materiais e produtos a partir da manipulação de átomos e moléculas vai ganhar um incentivo do governo federal. A área é chamada de nanotecnologia e terá, até o fim deste ano, recursos de mais de R$ 2,5 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). A nanotecnologia trabalha com partículas microscópicas, cuja unidade de medida é o nanômetro, ou seja, um bilhão de vezes menor que o metro. Por meio desta tecnologia, é possivel realizar pesquisas científicas mais detalhadas e contribuir para o avanço de diversas áreas como a própria medicina. É possível utilizá-la em medicamentos para atuar em pontos específicos de órgãos como fígado, coração e pulmão.
Segundo Alfredo Mendes, coordenador geral de Programas e Políticas de Nanotecnologia do MCT, o aporte financeiro é voltado para projetos ligados a nanobiotecnologia, sensores, materiais nanoestruturados e materiais nanomagnéticos. Segundo ele, a área está entre as prioridades do governo federal. Além disso, constam do Plano Plurianual (PPA), de acordo com Mendes, recursos de R$ 50 milhões para a nanotecnologia no orçamento do próximo ano.
"Você coloca dentro de um medicamento átomos magnéticos e ferro e o leva ao coração, fígado, pulmão, na região onde quiser, para que o remédio atue especificamente ali. Com uma injeção, se aplica as partículas e as acompanha com um imã até o local ideal", disse Elson Longo, diretor do Centro Multidisciplinar para Desenvolvimento de Materiais, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O pesquisador foi um dos palestrantes do Simpósio "Novos Materiais e Nanotecnologia", que aconteceu na Universidade Federal do Mato Grosso, em Cuiabá, durante a 56ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Segundo ele, o procedimento está sendo testado apenas em animais.
O foco da sua palestra foi a questão dos novos materiais, como as placas de memória na informática. As placas pesquisadas no laboratório dirigido pelo cientista Edson Longo são melhores que as atuais disponíveis no mercado. "A técnica é completamente nova. Com ela é possível armazenar informações em nível molecular, potencializando o espaço atual em 250 vezes, aumentando o desempenho do nosso sistema. Vai facilitar os sistemas de vigilância e o computador portátil, por exemplo", disse.
Segundo ele, um nano é da espessura de um fio de cabelo dividido por um milhão. No dia-a-dia, esta pequena partícula pode fazer a diferença. De acordo com ele, um fogão de chapa de aço dificulta a retirada da gordura e é motivo de reclamação das donas de casa. Para resolver o problema, foi colocado um filme fino, nanométrico, de óxido de silício sobre a chapa. "O material ficou ancorado dentro dos buracos da placa. Como se tivesse na sua casa buraquinhos e se passasse cimento, tapando todos. Quando lavar, fica mais fácil. Assim não tem possibilidade de ficar gordura retida na placa de aço", explicou.
Durante a sua palestra, o pesquisador disse que a nanotecnologia é uma ciência extremamente antiga, que só apareceu recentemente porque antes não se possuía equipamentos que permitissem a observação das partículas nanométricas (um metro dividido por mil). "Não podíamos ver. Hoje, com microscópios de alta resolução isso foi possível".