Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – O Brasil deveria se inspirar nas idéias indianas de "self reliance", ou "dependência de si próprio", surgidas com líderes como o indiano Mahatma Gandhi, para construir um modelo de desenvolvimento independente, afirmou hoje Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), durante a 11a reunião da entidade, nesta capital. "Para que um país como o Brasil melhore o seu desempenho, há muita coisa que depende só de nós, não do mundo de fora".
"Eu gosto de ressaltar isso, porque acho que nós às vezes esperamos demais, seja das negociações de comércio, seja do apoio financeiro do FMI, ou dos mercados financeiros, para receber recursos. Eu confesso que não acredito muito nisso", afirmou Ricupero, enquanto fazia um balanço sobre a reunião da Unctad, que termina amanhã.
Para o embaixador, o modelo que levou países como Índia e China ao sucesso econômico está ligado a idéias como a de "self reliance": "Claro que ninguém pode depender apenas de si próprio, mas em grande medida pode, e é uma ilusão pensar que nós podemos ser salvos pelo mercado financeiro".
"A grande preocupação que tenho em relação ao meu próprio país é que eu acho que ainda hoje o pensamento dominante aqui é essa ilusão perigosíssima dos mercados financeiros", acrescentou Ricupero, que já foi ministro da Fazenda do Brasil no governo Itamar Franco.
Ele reforçou o apelo contra o modelo baseado na captação de recursos no mercado internacional: "Nós temos que despertar para o fato de que esses mercados são traiçoeiros, são irracionais, são histéricos, mudam com uma facilidade extraordinária, e nós temos que depender deles o mínimo possível".
Para superar essa dependência, afirmou o embaixador, só há um caminho, aumentar as exportações, ter saldo na balança e trazer investimentos não especulativos, para gerar mais exportações e empregos. "Esses investimentos, eu acho que devem ser recebidos de braços abertos, os outros devem ser desestimulados".
O embaixador finalizou sua exposição com uma advertência: "Já pagamos um preço altíssimo por esses equívocos dos que ainda acreditam que nós podemos contar com esses mercados".