Brasília, 17/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - A agricultura orgânica, cujos produtos valem mais 30% nas compras do governo, não se restringe à produção de alimentos. Ela tem princípios fundamentais, que são exigências inclusive para a certificação (reconhecimento oficial) do produto. O engenheiro agrônomo Francisco Vilela Resende, pesquisador da Embrapa Hortaliças, lista esses princípios básicos: equilíbrio ambiental, diversificação no trabalho de rotação e consórcio de culturas para manter no ecossistema o maior número de espécies possível, reciclagem de matéria orgânica, com o aproveitamento de todos os recursos disponíveis na propriedade, e produção baseada em fundamentos econômicos e socialmente justos.
É considerado sistema orgânico de produção agropecuária e agroindustrial, conforme a Instrução Normativa nº 7 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o que incluir "tecnologias que otimizem o uso de recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto-sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados (OGM, ou transgênicos), ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e consumo, e entre os mesmos, privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, e assegurando a transparência em todos os estágios da produção e transformação".
E a engenheira Tereza Cristina Saminêz, pesquisadora da Embrapa Hortaliças, destaca que um sistema orgânico de produção não é obtido apenas com a troca de insumos químicos por orgânicos, biológicos ou ecológicos. Num documento publicado, ela afirma que isto "requer o comprometimento do setor produtivo com o sentido holístico da produção agrícola, onde o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis, a manutenção da biodiversidade, a proteção do meio ambiente, o desenvolvimento econômico, bem como a qualidade de vida do homem estejam igualmente contemplados".
Revolução Verde
No Brasil, segundo a pesquisadora, a cultura orgânica começou na década de 1970, relacionada com movimentos filosóficos que incluíam busca do contato com a terra, em oposição ao consumismo da vida moderna. Era a "Revolução Verde", consolidada dez anos depois, com a realização da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92, no Rio de Janeiro.
O encontro incentivou a produção e comercialização dos orgânicos, com desenvolvimento de práticas menos agressivas ao meio ambiente e o cultivo de alimentos saudáveis, livres de resíduos tóxicos e qualidade ecológica. Mas na Europa os experimentos datam de 1920, quando surgiram a cultura biodinâmica, a orgânica e a biológica. E no Japão começa a ser praticada a cultura natural.
A produção orgânica brasileira hoje tem café, açúcar, fumo, soja, hortifrutigranjeiros, suco de laranja, algodão, tomate, animais (aves e bovinos) e ovos. No caso da soja, representa até 2% das 30 milhões de toneladas colhidas na última safra, segundo estimativa do presidente Sindicato dos Produtores Rurais Orgânicos do Distrito Federal, Joe Carlo Valle.