Para sociólogo, esquerda brasileira rearticula-se fora dos partidos políticos

30/05/2004 - 15h08

São Paulo, 30/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - A rearticulação da esquerda brasileira ocorre, atualmente, fora dos partidos políticos. A afirmação foi feita pelo sociólogo Francisco de Oliveira à Agência Brasil, logo após proferir palestra no Seminário sobre Controle de Capitais, realizado neste fim de semana em São Paulo. O sociólogo disse também que a luta contra o neoliberalismo volta a ser o ponto de convergência entre as diferentes forças da esquerda brasileira.

Oliveira, intelectual que se desfiliou do Partido dos Trabalhadores por discordar da política econômica adotada pelo governo Lula, entende que o sistema partidário brasileiro é incapaz de "processar os novos conflitos que estão surgindo". Com base nesse diagnóstico, ele valia: "Por dentro não dá, porque os partidos são oligarquizados. O PT,que era a grande esperança,é hoje um partido oligarquizado, controlado ferreamente pelo seu núcleo duro".

O seminário, promovido pelo movimento de origem francesa Ação para a Taxação das Transações Financeiras Ação para a Taxação das Transações Financeiras em apoio aos Cidadãos (Attac), em parceria com o instituto alemão Rosa Luxemburgo, encerrou-se sábado com o lançamento de uma campanha de educação popular sobre controle de capitais. Participaram do evento cerca de 150 pessoas, entre intelectuais, militantes de movimentos sociais, economistas e representantes de sindicatos e de organizações não-governamentais.

No começo de junho, um conselho formado por representantes dessas entidades vai realizar nova reunião, na qual serão detalhadas as estratégias de ação. Até agora, nada de concreto está definido. Certo apenas, como demonstrou o discurso dos militantes presentes ao evento, é que a campanha não se limitará a exigir a adoção do controle de capitais, mas também fará a crítica do modelo adotado pelo governo Lula.

"O neoliberalismo não está vencido. Existem muitas opiniões otimistas de que o neoliberalismo está vencido, mas isso não é verdade", disse Oliveira. Ele aponta, entretanto, uma saudável rearticulação das forças e observa que "atividades e eventos de discussão estão pipocando pelo Brasil inteiro".

De acordo com Antônio Martins, membro do Attac e um dos organizadores do seminário, o próximo passo é elaborar uma marca de fácil apelo, para aproximar a população da discussão. O novo projeto nasce inspirado pela campanha contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que reuniu, em plebiscito realizado dois anos atrás, quase 10 milhões de pessoas.