Brasília, 7/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - "Cheiro thinner, fumo maconha e o que tiver". O relato de W.C.B.S., hoje com 13 anos, é o retrato dos meninos e meninas em situação de rua no Brasil. O adolescente começou a usar drogas com oito anos, e o primeiro cigarro quem deu foi o próprio pai.
A psicóloga Maria Fátima Sudbrack Olivier, coordenadora do Programa de Estudos e Atenção à Dependência Química (PRODEQUI), diz que a situação do uso de drogas entre crianças e adolescentes que vivem nas ruas é uma questão social. "Sair das drogas é sair das ruas", afirma. Olivier diz ainda ser possível que haja, inclusive, um comércio específico de solventes inalantes para essa população. "Em alguns casos, até para se livrar dos meninos, os próprios comerciantes dão a cola ou o thinner", acrescenta.
Os solventes ocupam o segundo lugar entre as drogas ilícitas mais usadas no país, de acordo com pesquisa do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). A primeira é a maconha. Entre a população de 12 a 65 anos, o índice é de 5,8% entre os que já usaram alguma vez na vida, maior que na Espanha (4,0%), na Bélgica (3,0%) e Colômbia (1,4%), por exemplo.
Para a diretora de prevenção e tratamento da Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), Paulina do Carmo Duarte, a droga é só um fator. "Essas crianças sofrem abusos e não têm acesso a serviços básicos", diz. A diretora acredita que viver nas ruas torna os meninos e meninas mais vulneráveis.
O coordenador de Saúde Mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado, diz que é importante ter uma política de inclusão social. "A situação é grave porque é uma situação de abandono", afirma. O coordenador diz que o uso de solventes entre os meninos é mais de duas vezes maior que entre as meninas.
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GA