Gastando quatro vezes o orçamento da Saúde com juros, país deve rever prioridades, diz Tânia Bacelar

07/05/2004 - 13h36

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A economista e socióloga Tânia Bacelar de Araújo afirmou hoje, ao defender a retomada do crescimento econômico do país, que o Estado brasileiro é refém dos credores da dívida externa e interna. Ex-secretária de Políticas de Desenvolvimento Regional, do Ministério da Integração Nacional, a economista disse que o governo elegeu a prioridade errada ao dar preferência ao pagamento da dívida, deixando investimentos em áreas como saúde e educação em segundo plano.

"O dinheiro é o mesmo, o lençol é curto. No ano passado, por exemplo, gastaram-se R$ 143 bilhões do orçamento da União com os serviços da dívida, e no maior orçamento da República, que é o da Saúde, gastaram-se R$ 36 bilhões. Essa é a disputa: o bolo está pequeno e a fatia prioritária dele é a do pagamento da dívida. Então as outras necessidades da sociedade brasileira ganham prioridade dois", criticou Tânia Bacelar,

Tânia Bacelar, que atualmente é professora da Universidade Federal de Pernambuco, fez uma exposição sobre o tema "O Estado e seu papel", no segundo dia da 4ª Semana Social Brasileira. Para a economista, o grande desafio do país é redefinir as prioridades. "A gente não está vendo a ruptura, está vendo a manutenção. Mas na minha visão, só quem é capaz de tirar o governo dessa armadilha é a sociedade brasileira", afirmou a economista, ao destacar a relevância do debate entre os vários organismos da sociedade civil. "Esses momentos de análise são muito importantes para traçar estratégias que tirem da perplexidade e levem a iniciativas que sejam construtivas", completou.

Outro desafio, no entendimento da socióloga, é alterar o modelo de estabilização do país, de maneira a permitir a retomada do crescimento econômico. "O Brasil tem um estoque de subemprego e de desempregados muito grande. Isso não tem solução sem a retomada do crescimento da economia, que é um gargalo muito poderoso", observou a Tânia.

As discussões da 4ª Semana Social Brasileira prosseguem até domingo (9). Organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em parceria com movimentos sociais, sindicais e estudantis, o seminário é um fórum de debates sobre temas como a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Fundo Monetário Internacional (FMI), dívida externa, precarização do trabalho, exclusão social, papel do Estado, soberania nacional e sustentabilidade. O objetivo é fazer um diagnóstico da realidade social do país, identificar problemas e apontar saídas.