Especial 3 - Parto humanizado resgata o trabalho das doulas

07/05/2004 - 10h05

Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Um dos maiores medos das mulheres que vão dar à luz, o da dor, pode ser amenizado com o trabalho das doulas, também conhecidas como acompanhantes de parto. O termo "doula" é de origem grega e significa "a serva, aquela que ajuda a mulher". As doulas fazem massagem, ensinam exercícios de relaxamento e dão apoio emocional à mulher na hora do parto.

"O que eu senti é que o trabalho de uma doula cria um ambiente de calma para a gestante. A doula trabalha o aspecto físico e o mental, com técnicas de relaxamento e exercícios para o neném encaixar. Isso contribui para o parto corra bem e sem dor". O depoimento é do servidor público Almir Silva, 33 anos, que há um mês acompanhou o trabalho de uma doula no nascimento no seu terceiro filho.

"Para ser doula, é preciso apenas ter duas mãos e um coração", explica a pedagoga Renata Beltrão, que também é doula. Junto com a psicóloga Marisa Rocha, ela fundou em Brasília o Espaço Gen, um centro que oferece cursos de preparação para o parto e formação de doulas.

Quem descobriu a função das doulas, conta Marisa Rocha, foram dois médicos norte-americanos que faziam uma pesquisa sobre o vínculo da mãe com o recém-nascido na hora do parto. Ao analisar os partos, eles descobriram que os mais fáceis e com melhores resultados tinham em comum a presença de uma observadora, uma menina chamada Wendy, que também fazia carinho e segurava a mão das gestantes, conversava com elas.

A servidora pública Ana Cristina Silva teve seu terceiro filho há um mês. O parto foi humanizado, de cócoras e com o auxílio de uma doula. "A doula foi o meu calmante. Ela me ensinava os exercícios que ajudavam a encaixar o bebê", afirma. Para Ana, a presença da doula aumenta a auto-estima da mulher no momento do parto.

"O parto humanizado trouxe de volta o empoderamento da mulher, a sensação de que a mulher é capaz de ter de naturalmente o seu bebê", afirma a doula Renata Mourão. O marido de Ana Cristina, Almir, concorda. "A máquina humana é algo perfeito, o ser humano é que tenta o tempo todo subverter essa lógica. No parto humanizado, a mulher passa a ter o papel principal", conclui.

As doulas Renata e Marisa são a favor do parto natural e alertam para o risco de que, em nome da comodidade, esse tipo de parto seja marginalizado. "É necessário procurar um bom médico, que faça a cesariana somente em último caso", afirmam.

Segundo dados do Ministério da Saúde, existem no Brasil mais de 60 mil parteiras e cerca de 18 mil médicos obstetras. Para Renata e Marisa, essa pode ser uma indicação de que o trabalho das parteiras precisa ser reconhecido e o parto natural, incentivado.