Rio, 22/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - Pesquisa realizada pelo hepatologista Francisco José Dutra Souto, professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e publicada na revista "Memórias", do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), indica que o uso compartilhado de seringas para injeção de estimulantes em atletas - uma prática comum nas décadas de 1970 e 1980 - pode estar ligado à ocorrência de casos de hepatite C entre ex-jogadores de futebol.
"Além de alertar para um problema de saúde pública ainda obscurecido pelo desconhecimento dos médicos e pelo preconceito dos próprios ex-jogadores em relação ao doping, a pesquisa reúne pela primeira vez indícios epidemiológicos capazes de caracterizar um novo grupo de risco não só para a hepatite C, mas também para outras doenças transmissíveis pelo sangue", afirma a Fiocruz.
Segundo Dutra Souto, foram entrevistados cerca de 40 ex-jogadores de futebol mato-grossenses que estiveram em atividade entre 1970 e 1989 e que relataram ter usado estimulantes injetáveis antes de partidas, uma prática comum sobretudo em times de futebol pequenos e em cidades do interior. "Deste grupo, verificamos que três jogadores estavam infectados, o que representa 7% do total. Como as estatísticas nacionais para a doença não ultrapassam 2% da população, a porcentagem encontrada entre estes ex-jogadores salta aos olhos", diz o médico.
Souto, no entanto, admite que a amostragem realizada no estudo é "muito reduzida" para que se obtenha resultados conclusivos, mas aponta a existência de um problema de saúde pública que precisa ser considerado. Ele lembra que, "como a hepatite C é uma doença que permanece assintomática na maior parte dos casos, é possível que muitos ex-jogadores que passaram pela experiência do compartilhamento de seringas para a injeção de estimulantes estejam infectados e não saibam".
Os 40 ex-jogadores testados no estudo apresentavam perfil semelhante: idade entre 41 e 53 anos e período de atividade profissional em torno de oito anos, tendo atuado predominantemente em equipes pequenas. Todos relataram ter usado estimulantes injetáveis ao menos uma vez, 60% admitiram que esta era uma prática corriqueira e 39 entrevistados admitiram o compartilhamento de seringas.