Maurício Cardoso
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil continua buscando novos combustíveis alternativos capazes de substituir os derivados de petróleo. O governo e a iniciativa privada passaram a investir em pesquisas e projetos de biodiesel produzidos a partir da biomassa (qualquer matéria de origem vegetal usada como fonte de energia), sobretudo da soja, que atualmente é o único óleo que atende à demanda industrial com milhões de hectares plantados nas regiões Sul e Centro-Oeste do país.
O óleo de soja tem um custo de produção mais competitivo, mas esbarra em um componente social pouco atraente para um programa de caráter nacional: o alto índice de mecanização das lavouras limita a abertura de novos postos de trabalho. Por isso, em algumas regiões do país, principalmente no semi-árido nordestino, a mamona vem ganhando espaço e abrindo novas perspectivas de renda para milhares trabalhadores rurais, com a vantagem de permitir o plantio consorciado com outras lavouras como feijão, arroz e milho, por exemplo.
O projeto de produção de mamona para a fabricação de biodiesel inaugurado esta semana, no Piauí, é uma nova alternativa para a produção de combustível verde a partir da agricultura familiar e que poderá servir de modelo para o fortalecimento do biodiesel no Brasil. Liderado pela Brasil Eco Diesel, proprietária de várias usinas termoelétricas no Nordeste, o projeto pode ser considerado o embrião da Parceria Público-Privada tão desejada pelo governo federal.
O projeto total prevê o plantio de 200 mil hectares de mamona envolvendo 11 mil famílias de agricultores. O primeiro núcleo, instalado no município de Canto do Buriti, a 500 quilômetros de Teresina, possui 18 mil hectares e abrigará 560 famílias. A empresa entrou com o dinheiro - cerca de R$ 15 milhões investidos em infra-estrutura, sementes, maquinário e suporte técnico -, o governo estadual cedeu o terreno e o governo federal desenvolverá ações de incentivo ao uso e comercialização do biocombustível.
Inspirado nos modelos israelenses de cooperativismo agrícola, o núcleo conta com 16 células de produção cada uma com 35 casas. Cada família é responsável por uma área de 18 hectares, dos quais 15 serão destinados exclusivamente ao cultivo da mamona e três para outras atividades de subsistência. O assentamento tem restaurante, escola, centro comunitário, posto médico, centro de informática, mercado e lojas de serviço.
Até a colheita da primeira safra, prevista para junho, cada família receberá um salário-mínimo e cesta básica. A produção prevista é de três mil toneladas de mamona e 1,2 mil toneladas de feijão. A expectativa é que a venda da produção renda cerca de R$ 700,00 por família. A Brasil Eco Diesel vai comprar toda a produção de mamona e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome garantirá a compra do excedente de feijão produzido pelas famílias assentadas.
Projetos de utilização da mamona como matéria-prima para a produção de biodiesel não são uma novidade no país. Em Varginha, no sul de Minas Gerais, por exemplo, o plantio consorciado da mamona com o café foi iniciado em 2001 e vem atraindo novos trabalhadores a cada ano. O núcleo montado no Piauí é a primeira experiência de plantio em escala industrial para produção de biodiesel. Se der certo, a iniciativa vai incentivar a cultura da mamona em todo o semi-árido nordestino.
O sucesso do projeto pode abrir novos rumos para o desenvolvimento socioeconômico da região, gerando renda, trabalho e cidadania. Responsável pela retomada do Programa Nacional de Biodiesel, praticamente abandonado pelo governo anterior, a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, está otimista com o novo modelo de parceria: "Queremos que o programa dê certo, para que possamos extrair petróleo verde das terras do Nordeste", disse a ministra.