Ex-presidiários concluem curso do projeto Reciclando Papel e Vidas da UnB

23/03/2004 - 12h52

Brasília, 23/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Doze ex-presidiários concluíram hoje o curso de reciclagem de papel e restauração de livros, da Universidade de Brasília (UnB). O curso faz parte do projeto Reciclando Papel e Vidas, que tem patrocínio do Ministério da Justiça.

Além de mais uma ferramenta para vencer a dificuldade de reinserção na sociedade, os ex-detentos têm em comum agora o amor pelos livros. Durante cinco meses, eles aprenderam a restaurar as obras raras da biblioteca da UnB. Com isso, receberam formação numa área em que faltam profissionais e recuperaram a auto-estima e a cidadania, explica o psicólogo Alberto Maury, da equipe do projeto.

A ex-detenta, Adauta do Carmo, disse que sentiu que estava enlouquecendo depois que saiu da prisão. Com formação técnica em enfermagem e auxiliar de dentista, ela não conseguiu nenhum emprego desde que saiu da prisão, há oito meses. Ela cumpriu pena de dois anos e oito meses por contrabando. "Quando fui solta, eu pensei que as pessoas iam me receber de braços abertos. Não é verdade. Todos te viram as costas e você se sente totalmente só e impotente. Tanto que quando eu fui selecionada (para o projeto), eu não acreditei que era verdade. Na época, eu estava indo procurar um psiquiatra porque achava que eu estava louca mesmo", conta Adauta.

"Eu errei e paguei minha dívida. Quando você paga sua dívida, você não deve mais. É assim no banco, é assim em qualquer lugar. No caso do egresso, não. Ele continua devendo para todo mundo", diz Adauta.

O ex-detento Paulo dos Santos Azevedo vive de fazer serviços de jardineiro e pintor como autônomo. Nunca teve um emprego com carteira assinada. Quando teve a primeira oportunidade, descobriu que havia uma condenação contra ele por furto a residência. Decidiu se entregar à polícia para cumprir sua pena, acreditando que depois teria uma nova oportunidade para um emprego formal. Hoje, continua vivendo dos "bicos".

Sem conseguir emprego, 85% dos ex-presidiários voltam a cometer algum crime. Segundo o diretor da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap), Adalberto Monteiro, a taxa de reincidência entre os presos que participam de atividades profissionalizantes, no Distrito Federal, é de apenas 15%.

Superar esse obstáculo é o principal objetivo do projeto Reciclando Papéis e Vidas. Hoje, Adauta, Paulo e mais dez alunos receberam o certificado de conclusão do curso. A próxima turma vai ter início em abril. A seleção para as 13 vagas oferecidas será no próximo dia 27, às 10 horas, no auditório do Teatro Dulcina (Setor de Diversões Sul).