Marina Domingos
Repórter da Agência Brasil
Recife - Uma das figuras mais expressivas e importantes no contexto da luta contra a fome no país é o médico e antropólogo, Josué de Castro. Pernambucano de nascimento, Josué foi o primeiro brasileiro a traçar um perfil sobre o problema da fome e as dificuldades de geração de renda para os trabalhadores, ainda nos anos 30. Denominado Inquérito sobre a Condição de Vida do Operariado da Cidade de Recife, o documento abriu caminho para que o interesse sobre os problemas sociais passassem a fazer parte de sua vida.
"Meu pai foi trabalhar como médico de uma fábrica e descobriu que as pessoas ficavam doentes porque não comiam direito. Infelizmente ele não foi ouvido", conta a filha de Josué, Anna Maria Castro.
Josué, que exerceu dois mandatos como deputado federal por seu estado, passou a desenvolver pesquisas para servir como base intelectual ao combate à injustiça social. Ele chegou a ocupar a presidência do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, foi embaixador das Organizações das Nações Unidas (ONU) e também foi indicado para receber o Prêmio Nobel de Medicina em 1954 e outras duas vezes, para o Nobel da Paz em 1963 e 1970.
Escolhido para ser um dos patronos do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional ao lado do sociólogo Herbet de Souza, Josué publicou o livro "Homens e Caranguejos", onde descreve o contato com a fome, aparente na vida pobre dos moradores das favelas do Recife. Na mesma época, ele cria a célebre frase: No mangue tudo é, foi, ou será caranguejo!
"Ele queria dizer que o caranguejo que o homem comia no mangue iria virar dejeto que alimentaria depois o outro caranguejo para alimentar o homem, criando um ciclo", explica ela.
Quando o governo militar chegou ao poder em 1964, Josué estava para assumir a embaixada do Brasil em Genebra e acabou indo parar no exílio em Paris. Assim, todos os livros, artigos e pesquisas publicadas foram caçados pela ditadura, levando todo seu trabalho para o esquecimento. Ele morreu no exílio em 1973.
"Tivemos que realizar um trabalho muito especial de resgate da memória de meu pai. Todos os livros haviam sido queimados ou estavam nos porões da ditadura", revela Anna Maria, que durante a II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, realizou o lançamento do livro "Josué de Castro: Semeador de Idéias".
O livro, que esta sendo distribuído para os jovens participantes do Instituto Técnico de Capacitação e Pesquisa da Reforma Agrária, coordenado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST), conta a vida do pernambucano ilustre para as novas gerações.
"Queremos mostrar que Josué de Castro denunciou a fome, não como só de alimentos, mas também como fome de cidadania, liberdade, de saber e do conhecimento", ressalta.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prometeu que iria reabrir o processo de anistia política de Josué de Castro em reconhecimento a importância para sociedade brasileira.