Universidade de Brasília abre vagas para estudantes índios

11/03/2004 - 19h03

Marina Domingos
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Fundação Nacional do Índio (Funai) e a Universidade de Brasília (Unb) assinam amanhã (12) um convênio para permitir a entrada de 15 estudantes indígenas nos cursos de graduação da universidade. A medida faz parte do programa de Plano de Metas para Integração Social, Étnica e Racial da UnB e vai beneficiar estudantes que já estão cursando faculdade em instituições particulares e que agora serão transferidos para a universidade pública.

"O convênio prevê numa primeira etapa a transferência dos alunos, mas nas etapas posteriores o limite previsto é de até cerca de 10 vagas para a UnB a cada semestre, de acordo com a demanda", explicou a professora Dione Moura.

A meta é formar cerca de 200 alunos indígenas em 10 anos, para que eles possam atender as aldeias em suas necessidades, formando mão-de-obra especializada para o trabalho na comunidade indígena.

"Falta educação, falta assitência médica e dentária, falta saber como transformar um produto florestal e comercializá-lo sem esgotar os recursos naturais. Falta saber como cuidar das fontes de água, por causa da contaminção dos garimpos e indústrias", disse Dione.

Segundo a professora, a política de inclusão dos estudantes indígenas na universidade segue a mesma linha das ações afirmativas que estão sendo implementadas para dar oportunidade aos negros.

De acordo com o presidente da Funai, Mércio Gomes, a iniciativa é importante para incentivar outras universidades. Ele lembrou que atualmente apenas 1.300 estudantes índios conseguiram chegar ao ensino superior. "Nós acreditamos que a UnB abrindo essas vagas vai dar o exemplo para outras universidades públicas brasileiras para que outros índios possam ser beneficiados", disse.

O estudante Rafael Wederowó Weree, da etnia Xavante, disse que a universidade representa um desafio. Ele nasceu e cresceu numa aldeia no interior do estado do Mato Grosso e veio para Brasília para continuar os estudos há quatro anos. "Desde que eu nasci só falava na minha língua, a gente não aprende português, só Xavante. Foi uma grande mudança muito difícil".

O estudante, que passou no vestibular de uma faculdade particular para o curso de Relações Internacionais, quer voltar para trabalhar em sua aldeia. "A minha família está toda lá. O meu futuro depois de formar é trabalhar e ajudar o meu povo, acompanhar os problemas da comunidade indígena", disse.

A Funai ficará responsável ainda por indicar os candidatos e os cursos que atendam a demanda das aldeias. Além disso, a Fundação oferecerá transporte a todos os alunos e a concessão de bolsas para os estudantes que não morem em Brasília.