Salvador discute globalização e cultura em seminário internacional

11/03/2004 - 11h01

Iara Falcão
Repórter Agência Brasil

Salvador - Encontrar formas práticas para fortalecer a cultura dos países de língua portuguesa, frente à invasão de outras manifestações culturais no contexto globalizado e fazer da cultura fonte de desenvolvimento são dois dos principais desafios identificados pelos participantes do Seminário Internacional sobre Cultura e Desenvolvimento dos Países de Língua Portuguesa, que acontece até sexta feira, em Salvador. Do encontro, devem surgir propostas concretas para subsidiar a III Reunião de Ministros da Cultura da CPLP, prevista para abril, em Moçambique.

Para o sociólogo português, Boaventura de Sousa Santos, primeiro expositor do encontro, é preciso que Brasil e Portugal, como países mais desenvolvidos dentro da comunidade, não se envolvam em "guerras de hegemonia", no sentido de querer mostrar quem tem mais poder dentro do grupo. Boaventura também ressaltou a necessidade de evitar novos imperialismos, preservando-se as culturas de cada país. "Proponho substituir o Consenso de Washington pelo Consenso de Porto Alegre", disse o sociólogo, numa alusão ao sistema pautado pela economia de mercados e o Fórum Social de Porto Alegre, "em que os povos se solidarizam para criar uma sociedade mais justa".

Além de Boaventura, quase 150 participantes, entre artistas, intelectuais e gestores de cultura, debatem os impactos da globalização sobre os processos culturais. Um dos aspectos mais abordados durante o primeiro dia do seminário foi o de se criar uma rede de ação e comunicação entre governos, organismos internacionais, ONGs e sociedade civil. Os agentes culturais querem, além da criação de um programa de ação concreto, um Fórum Permanente de Cultura para viabilizar o programa e acompanhar seu desenvolvimento nos diversos países. Um observatório permanente da cultura dos oito membros da CPLP também será criado para medir as relações entre a cultura e o desenvolvimento dos países, já que dados e estatísticas sobre o assunto são escassos. Os palestrantes também defenderam o resgate da história comum desses países em arquivos como os de Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Segundo o representante no Brasil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD,Carlos Lopes, a globalização pode ser um instrumento de união dos países de língua portuguesa. "Através da globalização descobrimos coisas interessantes, como a importância de se trabalhar em rede. Os países, unidos, são mais fortes. Vamos fazer com que essa globalização nos valorize", afirmou.