Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Uma figueira de 450 anos foi a fonte de inspiração de violeiros de Ribeirão Preto. Sentados debaixo da árvore, com a viola na mão, começaram a imaginar como seria uma reunião de músicos deste que é o mais popular instrumento brasileiro. Assim surgiu o Encontro Nacional de Violeiros que, neste domingo (14), chega à sua 2ª edição no Sítio Pau D'Alho, onde se localiza a figueira.
O encontro é realizado juntamente com a Festa do Milho Verde em Louvor a São José Operário. Durante todo o dia, 55 violeiros de todo o país subirão ao palco. A entrada é gratuita. Quem assistir aos shows vai poder, enquanto ouve uma boa música, se deliciar com o sabor do curau, bolo de milho e de fubá, pamonha, milho cozido e polenta.
Todos os alimentos são produzidos pelo Movimento Sem Terra (MST) que, em Ribeirão Preto, é composto por 146 famílias do assentamento "17 de Abril" (1.002 hectares) e 485 famílias de dois acampamentos. Segundo o coordenador estadual do MST, Hemes Lopes, todos os alimentos plantados pelo movimento são orgânicos. "Não usamos agrotóxicos ou transgênicos", afirma. Na festa, será montada a Feira de Produtos Orgânicos, que dará explicações sobre os produtos.
A cana-de-açúcar é o principal produto agrícola de Ribeirão Preto, mas o milho foi o escolhido pelo MST para a região, "devido ao clima favorável e porque o milho-crioulo está em extinção", explica o coordenador. Além de alimentos que têm o milho-crioulo como ingrediente principal, um restaurante foi montado no sítio, com capacidade para quatro mil refeições. "O preço será popular e o objetivo é que as famílias possam ir e passar o dia inteiro na festa, por isso teremos almoço", ressalta Hemes.
Ao todo, 240 militantes trabalham na organização do evento. O Sítio Pau D'Alho pertence à Arquidiocese de Ribeirão Preto, parceira do MST. O local, que antes abrigava os Irmãos Maristas, hoje se transformou em um Centro de Produção e Capacitação dos militantes. Oficinas de teatro, música e artesanato também são realizadas no local e mostram que a junção entre luta pela reforma agrária e pela valorização da cultura local são uma prática constante em Ribeirão Preto. Para Hemes, a arte é importante para "valorizar o ser humano e para que o cidadão consiga se manifestar. O movimento não é apenas de ocupação de terras", diz.
Um dos idealizadores do encontro é o militante Pereira da Viola, que carrega no nome o amor ao instrumento. "Não é o violeiro que escolhe a viola, é a viola que escolhe o violeiro", costuma brincar. Nesta segunda edição, o Encontro Nacional de Violeiros será gravado e se transformará em um CD.
Na noite anterior aos shows, os músicos irão se reunir no próprio sítio para a criação da primeira Associação Nacional dos Violeiros. Na ocasião, será eleita a diretoria e idealizado um "movimento organizado". Além disso, vai ser discutida a realização de um seminário nacional e, posteriormente, um grande Congresso", se anima Pereira da Viola, que tem na militância e no instrumento suas duas grandes paixões.
Pereira conta que os pais sempre participaram de movimentos, que começou a tocar violão aos 11 anos e a viola aos 19. "A primeira vez que peguei uma viola foi muito emocionante, balançou minha vida pela história que carrega dentro dela, a história de brasileiros que não abaixam a cabeça", lembra.
Mais de 15 mil pessoas são esperadas no evento. Bia Mestriner, uma das coordenadoras da festa, conta que haverá ônibus para levar a população até o Parque das Andorinhas e, de lá, vans gratuitas farão o trajeto até o sítio". A entrada também é gratuita.