Empresários gostam da política industrial anunciada, mas cobram redução da Selic

11/03/2004 - 13h56

Brasília, 11/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Os empresários que integram o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do governo ,mesmo reclamando da taxa básica de juros como instrumento de controle da inflação, com consequências para o crescimento da economia, reagiram bem às propostas do governo de incrementar a política industrial.

Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do grupo Gerdau, acredita que a proposta do governo é tecnicamente bem elaborada, mas lembra que as medidas precisam ser trabalhadas.

Gerdau, no entanto, acha que é muito importante o posicionamento claro do governo de que haverá uma política industrial, pois essa é uma reivindicação empresarial de muitos anos.

"É o importante iniciar, trabalhar e continuar aprimorando permanentemente. O fato do ministro definir até o final do mês os mecanismos executivos é extremamente importante", disse Gerdau.
Já o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro, faz a ressalva de que a política industrial tem de ter um momento de sintonia com a política macroeconômica.
"Nós temos a experiência de verificar como essa política macroeconômica às vezes vem um pouco na contramão na política de promoção do desenvolvimento. Na área tributária, nós iniciamos um movimento importante na desoneração dos investimentos, reduzindo o IPI de bens de capital.

No entanto ,a mudança que se operou no PIS/COFINS (subiu de 3% para 7,6%), anulou o beneficio proporcionado pelas alíquotas do IPI", critica Monteiro. Outro exemplo citado por Monteiro, é, na opinião dele, a rígida política monetária e a meta de inflação estabelecida pelo governo para este ano. Para ele, se houver um esforço para cumprir a meta de 5,5 por cento, os efeito serão sentidos na taxa de crescimento.

Ele considera positiva a visão do Presidente Lula para o qual não se pode fazer concessões na política monetária, mas defende que um pouco de inflação é tolerável. "Ela (a política) tem que ter um flexibilidade e você pode trabalhar sem o comprometimento fundamental da política", afirmou.

Na mesma linha, o presidente da Federação da Indústria de São Paulo, Horácio Lafer Piva, elogia a decisão de se dar um novo rumo à politica indústrial, mas é outro peso-pesado da indústria que insiste que é preciso reduzir a taxa de juros de forma mais substantiva para depois
aplicar uma política industrial vertical, onde o governo poderia escolher os setores a serem beneficados.

"Eu pessoalmente não acredito que os juros são o único instrumento para controlar a inflação e acho que nós continuamos com a política excessivamente conservadora na questão da taxa de juros e deveriámos aproveitar bons momentos onde os impactos da inflação são segmentados,
onde tem uma queda de risco-país, a massa salarial está reduzida , que permite que você não tem uma inflação de demanda e possa testar o nível mais baixo das taxas de juros", defende Piva.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, que também participa do Conselho, reclama e acha que as medidas são paliativas. Para "Paulinho", todo e qualquer investimento que se faça no setor levanta apenas o setor. Ele defende que o governo tem que mexer como um todo na economia, que está paralisada. "O governo vai criar emprego, talvez na construção civil e em outros setores, mas todos os setores estão em dificuldade. Até agora, as empresas tiveram dificuldade, os trabalhadores perderam o emprego e os banqueiros ganharam muito dinheiro", reclama.