Senador anuncia desligamento do PSB para indicar nome à CPI dos Bingos

08/03/2004 - 19h39

Brasília - A decisão dos partidos de sustentação do Governo no Senado de não indicar nenhum nome para compor a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos provocou hoje uma baixa na base aliada. O senador Geraldo Mesquita Jr. (PSB-AC) anunciou em plenário sua intenção de se desligar do partido e justificou a decisão com a atitude da bancada governista, tomada na quinta-feira.

Mesquita decidiu apresentar seu nome formalmente ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB/AP), como um dos componentes da comissão. "Assinei a CPI convicto de que essa era a solução para fazer com que a Casa voltasse a trabalhar. Não quero constranger meus companheiros", disse. O requerimento para a inclusão do nome do senador será apresentado amanhã cedo.

Para Mesquita, a decisão do PSB de não indicar ninguém para a CPI vai colaborar para que o assunto não se esgote e permaneça impedindo a continuidade dos trabalhos do Legislativo. O senador disse que expressou para o líder do PSB no Senado, João Capiberibe (AP), a avaliação de que a tática era um erro. "No entanto, o PSB assinou e isso me deixou agastado. Não me basta apenas dizer que não concordo. Saio e evito problemas, até porque seria indisciplina partidária e não vou configurar isso", afirmou.

Mesquita revelou que sua decisão de sair do PSB não será revista nem mesmo se o partido voltar atrás na decisão de abafar a CPI. "Não posso colocar as coisas nestes termos, porque senão é chantagem. Por isso, já anunciei que vou me desfiliar incondicionalmente", disse.

O senador acreano garante que, se indicado, trabalhará na CPI para "ressaltar a honorabilidade e decência do próprio presidente Lula e do ministro Dirceu" sem, no entanto, defender a política econômica do Governo. Mesquita teceu críticas à condução da economia e classificou como "desastre" o governo Lula.

"Permaneço na defesa do governo. Ainda acredito nele, apesar do desastre que é essa política econômica na qual mostramos que não assumimos poder nenhum, mas apenas estamos gerenciando essa máquina doida que transfere a renda do trabalhador para a elite", disse. Apesar das críticas, o senador garantiu que não vai migrar para nenhum partido de oposição. "Continuo um tempo sem partido", disse.

Tão logo anunciada a decisão, o senador Antônio Carlos Valadares (PSB/SE), que liderou a bancada socialista no ano passado, subiu à tribuna para garantir que nem o partido nem o governo tem pressionado para que os socialistas adotem quaisquer posturas quanto à CPI. "Não recebi pressão do governo ou do partido para retirar minha assinatura", disse. Valadares deixou o plenário e foi para o gabinete de Mesquita, onde ainda tentou convencê-lo a voltar atrás.

Ao dizer ao colega de partido que o "PSB não vai aceitar sua decisão", Valadares encontrou um Geraldo Mesquita resoluto. "Essa é uma decisão unilateral. Não tem essa de o partido não aceitar minha desfiliação", disse. "Valadares, faço isso para o bem do partido", continuou.

Do outro lado

A oposição, por sua vez, insiste na instalação da CPI. O PSDB já escolheu os dois nomes do partido para compor a comissão. Serão indicados os tucanos Antero Paes de Barros (MT) e Álvaro Dias (PR). O líder Arthur Virgílio será o suplente do PSDB na comissão. O PDT, com direito a uma vaga, indicou Osmar Dias (PR) e Juvêncio da Fonseca (MS), mas ainda não decidiu quem será o titular da cadeira. O PFL tem direito a três indicações, mas só define os nomes amanhã.

Se o presidente Sarney confirmar a intenção de não indicar nomes para a CPI no lugar dos partidos da base, a oposição promete ir até o Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a investigação parlamentar. O argumento dos oposicionistas é o de que, se esta CPI for abafada, o conceito de comissão parlamentar de inquérito estará em jogo. "Vamos ao Sarney mostrar que não está em jogo a CPI do Waldomiro, mas todas as CPIs. Se prevalecer essa posição, nunca mais vai haver CPI, e a oposição perde o direito de investigar a situação", disse o líder Arthur Virgílio.

(Raquel Ribeiro e Iolando Lourenço)