Murilo Ramos
Enviado especial
Salvador – No ano passado, a economia brasileira apresentou retração de 0,2% em relação a 2002, segundo dados do IBGE. O recuo do Produto Interno Bruto, entretanto, não se reproduziu em todos os Estados. Uma exceção a esse quadro foi a Bahia. De acordo com informações da
secretaria estadual de planejamento, o PIB subiu 4%. A estimativa para este ano é que haja uma repetição do ritmo verificado em 2003.
Mas como explicar a desenvoltura baiana em um cenário adverso, com taxas de juros superiores a 16% ao ano, dificultando empréstimos a empreendedores, e carga tributária superando a casa de 36% de toda a riqueza gerada? Os números ajudam a entender o fenômeno. A agricultura, por exemplo, cresceu 2,5%. Destacam-se a cultura da soja no oeste do Estado e a fruticultura praticada às margens do Rio São Francisco. Para se ter idéia, 90% da produção em escala comercial da uva e manga vêm da região de Bom Jesus da Lapa e Vitória da Conquista, de acordo com informações da secretaria de Agricultura. A agropecuária, por sua vez, teve renda 3% maior do que em 2002.
Porém, a modernização do campo, com aumento da produtividade, ajuda apenas a entender parte do sucesso. O pólo petroquímico, instalado nas cercanias da capital baiana, registrou crescimento também. O fortalecimento da indústria automotiva na região promoveu um
incremento de 8,5% na produção. A mola propulsora não veio do mercado interno, mas sim do exterior.
A propósito, as exportações baianas apresentaram alta de 35,2% em 2003. Responderam por 4,5% das vendas brasileiras. Desse modo, o estado acumulou saldo comercial de US$ 1,3 bilhão, com as exportações chegando a US$ 3,2 bilhões e as importações a US$ 1,3 bilhão. Estão no
rol das principais mercadorias vendidas, além dos automóveis, produtos minerais, tais como óleo combustível e petróleo, derivados do cacau e plásticos.
Pólo tecnológico de Ilhéus
O sul do Estado da Bahia sempre foi reconhecido pela forte cultura do cacau. Na década de 80, entretanto, pragas que atacaram a lavoura, como a vassoura-de-bruxa, e a concorrência asiática, que competia com preços baixos, tornaram a prática pouco lucrativa.
O resultado que se viu a seguir, com a decadência cacaueira, foi a forte retração econômica na região de Ilhéus e Itabuna. O aumento do desemprego entre os trabalhadores rurais crescia a olhos vistos.
No ano de 1995, uma iniciativa trouxe alento à região. Incentivos fiscais estimularam a ida de empresas do setor tecnológico para Ilhéus. Hoje há mais de 40 delas instaladas. Empregam mais de mil pessoas e, segundo cálculos da Secretaria de Indústria da Bahia, geraram cerca de oito mil empregos indiretos ao longo desses anos. Somente no ano de 2002, apresentou receita próxima a US$ 300 milhões, ou seja, quase R$ 900 milhões de reais. Por ano, são produzidos mais de 28 mil computadores, 13 mil monitores, 15 mil placas-mãe e 12,5 mil teclados.
O empresário Hamilton Vita, presidente do Sindicato das Empresas de Tecnologia de Ilhéus, conta que no começo tudo era muito difícil para o funcionamento das fábricas, em especial no que diz respeito à mão-de-obra. "Os trabalhadores não tinham a qualificação desejada. Vinha muita gente de São Paulo para cá em virtude da escassez de funcionários preparados". Mesmo assim, ao longo dos anos a economia da cidade tem ficado mais dinâmica. Pintores,
serralheiros e comerciantes, por exemplo, têm arrumado trabalho em função do aquecimento da economia, que tem atraído, ainda, moradores de municípios vizinhos.
Vita explica que o quadro da qualificação dos trabalhadores mudou, felizmente. Graças a convênios com o Senai, foi possível criar um curso técnico de eletroeletrônica e isso tem ajudado a fornecer bons trabalhadores para as indústrias. Outra iniciativa foi a aproximação com a
universidade estadual. Neste ano, o curso de Engenharia de Produção e Sistemas foi aberto, tendo como principal objetivo suprir as necessidades das empresas da região por trabalhadores de nível superior.
Gargalos do pólo tecnológico
Nem tudo é sinônimo de eficiência no pólo tecnológico, entretanto. Vita afirma que a infra-estrutura é o principal entrave para que o pólo possa se desenvolver ainda mais, como a distribuição de energia e serviços de terraplanagem para que mais indústrias se interessem em seguir rumo ao sul da Bahia.
A construção de um aeroporto alfandegário na região é outra esperança dos empresários locais. Atualmente, produtos importados e matérias-primas, usados na produção do pólo, são desembaraçados em Salvador ou até mesmo em outros estados, como São Paulo. Com isso, a chegada a Ilhéus atrasa e o município deixa de arrecadar impostos, o que poderia levantar mais recursos para o município.
Outra preocupação é o crescimento da economia brasileira. "Sem o aquecimento do PIB brasileiro, fica difícil expandir a produção no pólo. Em 2003, por exemplo (os resultados ainda não estão consolidados), o incremento da renda na região deve ter sido tímido", afirmou.
* O repórter viajou a convite da revista "Imprensa" para participar do Fórum Internacional Petróleo, Meio Ambiente e Imprensa