Feministas recebem prêmio Bertha Lutz no Senado

06/03/2004 - 9h23

Artur Cavalcante
Brasília, 6/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - Muito já foi conquistado no que diz respeito aos direitos das mulheres: temos hoje uma legislação igualitária no Brasil, mas ainda resta uma defasagem enorme entre a lei e a prática. Essa é a avaliação da pedagoga e coordenadora executiva da Rede de Desenvolvimento Humano, Maria Aparecida Schumaer, mais conhecida como Schuma Schumaer.

Engajada no movimento feminista desde 1977, essa paulista de Santa Fé fundou o primeiro grupo feminista de combate à violência contra a mulher e já trabalhou em diversos órgãos e entidades de defesa dos direitos humanos, em especial os da mulher. Organizou ainda o livro "Dicionário Mulheres do Brasil - De 1500 até a Atualidade", publicado em 2000. O livro reúne 270 ilustrações e 900 verbetes sobre diversas mulheres que marcaram a história do país.

Schuma é uma das cinco mulheres que foram escolhidas para receber o prêmio Bertha Lutz, concedido pelo Senado Federal. A condecoração será entregue em sessão solene no próximo dia 9. Em entrevista para a Radio Nacional Amazônia, Schuma falou da importância do prêmio. Segundo ela, o prêmio vale primeiro por lembrar a própria Bertha Lutz, pioneira na luta pelo voto feminino no Brasil. "(O voto da mulher) não foi nenhum presente de nenhum presidente da República, não foi nenhuma dádiva de ninguém, foi o resultado de uma luta. A Bertha, de uma certa forma, foi quem liderou o movimento nacional e é quem expressa, em nome de todas aquelas outras bravas e ousadas mulheres, um pouco disso", afirmou.

Na opinião de Schuma, ainda há espaço e necessidade para o feminismo em nossa sociedade. "É inadmissível pensar uma cultura em que se acha que pode ser dono do outro e, sendo assim, fazer do outro o que quiser, inclusive com o corpo, com a dignidade e com a alma do outro", afirma a pedagoga.

Ela acrescenta que, em alguns aspectos, a situação da mulher ainda está próxima da "barbárie". Schuma disse que, apesar de termos uma legislação eficiente, um programa de assistência à saúde da mulher pronto e diversas propostas sobre a questão da violência contra a mulher, não são todos e, principalmente, todas que têm acesso a esses direitos. "Nosso trabalho é sempre olhar para outra mulher, respeitar aquela outra mulher, saber que tenho que me juntar a ela, ela tem que se juntar a mais outra e nós teremos que ser muitas. Sendo muitas nós vamos poder transformar alguma coisa. Nós não temos que pedir nada. Temos é que exigir um direito que é nosso, que é de todas as mulheres", finaliza.

Maria Gleyde Martins Costa, Eva Sopher, Mônica Maria de Paula Barroso e Zuleika Alambert também receberão o prêmio Bertha Lutz, junto com Schumaer. A cerimônia de entrega no Senado, na próxima terça-feira, será também a abertura oficial do Ano Nacional da Mulher.