Especialistas iniciam escavações em Xambioá para localizar ossadas de guerrilheiros

06/03/2004 - 10h45

Brasília, 6/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - No segundo dia de trabalhos de localização das ossadas de desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, na década de 70, o grupo de especialistas enviado pelo governo federal a Xambioá (TO) dará inicio à escavação da área demarcada ontem. No local, podem ter sido enterrados os corpos de Walkíria Afonso Costa e Osvaldo Orlando da Costa, ambos mortos pela repressão militar. Os trabalhos estão sendo acompanhados de perto pelo ministro Nilmário Miranda, da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

Inicialmente, será feito o rastreamento do solo na área demarcada. Anomalias no terreno podem indicar com maior precisão o lugar em que corpos foram enterrados. Uma vez identificada a área, a equipe inicia a escavação.

Durante mais de 30 anos, familiares e sobreviventes da guerrilha tentam esclarecer os fatos ocorridos no Araguaia e cobram uma reparação do Estado. O movimento armado foi organizado em 1966, pelo PC do B (Partido Comunista do Brasil) na divisa entre Tocantins, Pará e Maranhão, região conhecida como Bico do Papagaio. Os guerrilheiros eram contrários ao regime militar e queriam instituir um estado independente na região.

Os participantes da guerrilha começaram a chegar no local no final de 1965, instalando-se como pequenos comerciantes. Em 1966, a estratégia era implantar o comunismo no campo e na cidade. Cerca de 80 homens e mulheres ocuparam uma grande área à margem esquerda do rio Araguaia.

Os guerrilheiros eram jovens, universitários, camponeses, engenheiros, geólogos e médicos, que foram combater a ditadura, defender a democracia e os direitos do povo. Em 1972, o núcleo foi descoberto pelo Exército e, em 1975, o movimento foi esmagado pelas Forças Armadas.

De acordo com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos, até hoje não foi descoberto o número de mortes. Estima-se que 59 pessoas morreram durante o conflito e que os corpos estejam enterrados em cemitérios clandestinos da região.

Ex-combatentes da guerrilha também acompanham de perto o trabalho de localização dos corpos. Entre eles, o ex-guerrilheiro Micheias Gomes de Almeida, conhecido como Zezinho do Araguaia, que sempre lutou para a localização e identificação dos companheiros mortos no combate.