Murilo Ramos
Enviado especial
Davos (Suíça) – O Fórum Econômico Mundial terminou hoje e, ao menos no quesito frio, os debates chegaram ao fim exatamente como no começo da maior reunião capitalista do planeta: debaixo de muita neve. No campo das idéias, entretanto, os cinco dias foram pródigos. De trabalho infantil, passando por injustiças entre ricos e pobres, até terrorismo e envio de tropas européias ao Iraque, quase tudo foi discutido. A importância das agendas de Davos e de Porto Alegre para a população de todo o mundo, assim como projetos, também foram lembradas.
De modo geral, o que se pôde notar foi a clara divergência de interesses entre os participantes do fórum. Os representantes europeus quiseram tratar da desvalorização do dólar americano, seus efeitos sobre a economia regional e torceram o nariz para as pretensões anti-terroristas dos Estados Unidos. Esses, por sua vez, só falavam em como aumentar o combate às iniciativas do terrorismo internacional e deixaram de lado a questão do controle do déficit das contas do Estado.
Os países agrícolas bateram na tecla do fim do protecionismo e na eliminação dos subsídios que os países ricos destinam às exportações. O mundo islâmico contestou, segundo sua versão, a política internacional intervencionista de Washington. Os empresários se interessaram em realizar negócios e saber mais a respeito do "milagre chinês", que, só no ano passado, registrou crescimento de 8,5% do Produto Interno Bruto. Já os líderes religiosos queriam entender como a globalização tem interferido no mapa dos credos.
Mundo real
Paralelamente ao evento principal, floresceram questões sociais que, de acordo com o presidente do Instituto Ethos do Brasil, Young Silva, ganham, gradativamente, espaço na caderneta de Davos. O diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Juan Somavia, por exemplo, destacou que políticas de emprego têm de ser tratadas como a primeira das prioridades, pois, sem elas, pais desempregados e na miséria vão continuar vendendo seus filhos e alimentando a prostituição, o tráfico de drogas, o desespero e a fome.
Inflação X Pessoas
Uma das idéias mais curiosas, no entanto, foi a do Prêmio Nobel e professor de economia da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, Joseph Stiglitz. Segundo ele, os ministros de Finanças de todo o mundo estão pensando demais em inflação e esquecendo das pessoas. "Os principais integrantes dos organismos internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, são economistas que se atêm a números e não aos trabalhadores".
A ministra de Finanças da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, arrematou: "Temos de pensar mais na condição de vida de cada cidadão".
Brasil
Para o Brasil, segundo o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o fórum foi mais que um lugar para troca de experiências. Foi uma oportunidade real e um palco privilegiado para explicar a empresários de todo o mundo que o país está mais forte que no ano passado e preparado para receber investimentos que gerem empregos. "O Brasil está sendo visto com grande respeito", ressaltou Meirelles.
Além disso, houve o início da retomada das conversações sobre a Organização Mundial do Comércio, que na última reunião ministerial, na cidade mexicana de Cancún, em setembro, naufragou e promete se acelerar nos próximos meses, tratando principalmente dos temas de interesse brasileiro, como a regularização de regras agrícolas.