Márcia Detoni
Enviada especial
Nova Délhi (Índia) – O Brasil está no caminho certo para melhorar a distribuição de renda. A opinião é do diretor do Banco Mundial no Brasil, o indiano Vidon Thomas, que acompanha a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Nova Délhi. Segundo ele, os investimentos do governo em educação básica, a reforma da Previdência e uma maior eficiência nos gastos sociais podem ter impacto significativo na distribuição de renda do Brasil já nos próximos cinco anos.
Thomas diz que o "consenso de Washington", pelo qual a adoção de algumas regras básicas levam ao crescimento econômico e à solução natural dos problemas sociais, provou estar errado. O melhor caminho, na opinião dele, é o atual "consenso de Brasília", com o governo mantendo a disciplina fiscal ao mesmo tempo em que promove ações sociais para a distribuição de renda.
O economista do Banco Mundial diz que os países pobres não têm como se desenvolver apostando apenas no crescimento econômico, como é o caso da Índia, que vem crescendo a uma taxa média de 6% ao ano na última década, mas tem mais de 250 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema, sem ter o que comer. É preciso, segundo ele, que os países também adotem ações que promovam a transferência de renda, como educação, micro-crédito e mais eficiência nos gastos sociais.
Thomas considera razoável o Brasil investir 15% do Produto Interno Bruto (PIB) na área social. "Isso não é pouco comparado a outros países em desenvolvimento", diz. O problema, na opinião dele, é que 8% desse total vai para a Previdência, que não repassa os benefícios para as camadas mais baixas. "Só uma parte pequena vai para os pobres", reforça.
O economista do Banco Mundial acredita que, ao repartir melhor os benefícios, a reforma da Previdência terá um impacto positivo na distribuição de rend brasileira. Segundo ele, a educação básica - estendida, na última década, para 97% da população - também tem contribuído para um aumento da renda da população.
"A distribuição de renda na América Latina não mudou nos últimos 100 anos. Mas no Brasil houve uma pequena melhora como resultado dos esforços na educação básica entre 1994-1996", explica Thomas, destacando também a melhoria de outros índices nos últimos dez anos, como a mortalidade infantil e expectativa de vida.
O especialista reconhece que o governo Fernando Henrique Cardoso impulsionou essas mudanças, mas não concorda com as críticas de que Lula está apenas copiando o modelo de política social do antecessor.
"A área social mostra uma continuação de algumas políticas. A ampliação do programa Bolsa Família é baseada na experiência do Bolsa Escola e de outros programas que deram resultado nos últimos dez anos. Mas o governo Lula, ao mesmo tempo em que mantém a disciplina fiscal, está dando uma urgência muito maior à parte social para melhorar distribuição de renda", diz.
Conselho para Tarso
A missão do novo ministro da Educação, Tarso Genro, na opinião do diretor do Banco Mundial é melhorar a qualidade da educação básica e investir na educação secundária, onde há um déficit muito grande. Mas, segundo ele, o setor privado também precisa participar dos esforços.
"Na Coréia do Sul o aumento da educação secundária deu certo não por causa do governo, mas porque o setor privado participou financiando o ensino", completa.
Na opinião do executivo, o setor privado precisa agir como parceiro do governo porque os negócios só tem a ganhar com mão de obra mais qualificada.