Médico viaja 950 km de bicicleta para chegar a conferência

09/12/2003 - 12h04

Brasília, 9/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - Pedalar doze dias debaixo de muito sol e chuva com o objetivo de chamar a atenção para o maior evento de saúde do país. Essa é a história do médico Sérgio da Silva, de 46 anos, que participa da 12ª Conferência Nacional de Saúde (CNS) como delegado do município de Rondonópolis, no Mato Grosso.

Com 20 anos de medicina, Sérgio era médico do Programa Saúde da Família (PSF) de seu estado, mas foi demitido (segundo ele por motivos políticos) logo após ser eleito como delegado para a 12ª CNS. Foram doze dias pedalando sem parar – o médico saiu de Rondonópolis no dia 24 de novembro e chegou a Brasília no dia cinco de dezembro – 950 quilômetros completados com a ajuda da mulher e de um irmão.

"O curioso é que eu não me preparei em nenhuma hora, eu não pedalei nenhum minuto, peguei uma bicicleta comum do meu filho e vim com ela fazendo as revisões na estrada. A partir do 3º dia tive o apoio da minha esposa e do meu irmão; meio-dia eu parava para descansar, comer alguma fruta e à noite eu dormia nas cidades" conta Sérgio, que em alguns dias chegou a pedalar até 130 quilômetros.

Alguns calos e unhas perdidas depois, Sérgio afirma estar otimista em relação à 12º CNS: "No meio da estrada fui avisado que o controle social era o mais visado, o mais debatido".
Aliás, essa é uma das maiores preocupações do médico "ciclista" durante a conferência. Para ele, os participantes do maior evento de saúde do Brasil devem mexer no "coração" do Sistema Único de Saúde (SUS), fortalecer o PSF e aumentar o controle social. "Eu tomei a decisão de vir de bicicleta para chamar a atenção para a conferência para que aumente o controle social. Já que com a municipalização o dinheiro, que é sinônimo de poder, vai para o município, então esse poder tem que ser mais fiscalizado, mais bem administrado, e o povo é que sabe como administrar", concluiu.

O ministro da Saúde, Humberto Costa, afirmou que o atual governo tem o compromisso pleno e amplo com o controle social. "Queremos aprimorar as formas de controle social, contribuir para a capacitação dos membros dos conselhos municipais e estaduais de saúde, vamos incentivar a criação de comitês gestores, conselhos gestores nos hospitais e nas unidades de saúde e queremos uma forte parceria com os que integram o controle social para que nós possamos fiscalizar de forma mais exitosa a aplicação dos recursos nos estados e nos municípios", disse. O ministro afirmou ainda que as propostas que estão surgindo na 12ª CNS são muito interessantes, inteligentes, factíveis e deverão ser incorporadas em grande parte após a decisão da assembléia final.

A 12ª CNS promete marcar a história da saúde no país. Serão debatidos os rumos que o SUS tomará nos próximos três anos. A discussão envolve todos os 5.559 municípios, os 27 estados brasileiros e o Distrito Federal.

Com o tema "Saúde - um direito de todos e dever do Estado - A Saúde que temos, o SUS que queremos" o evento prossegue até o próximo dia 11 com a realização de mesas redondas seguidas de debates, grupos de discussão e plenária, que acontecem em auditórios da Universidade de Brasília (UnB) e na Academia de Tênis.

A conferência prevê também uma diversa programação cultural. Às 19 horas de hoje, no Centro Comunitário da UnB, a confraternização ficará por conta do grupo de forró As Backtianas, do cantor Dominguinhos e da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel. Amanhã acontecerá o Show pela Paz, às 19h30 na Academia de Tênis, com a apresentação do cantor Ney Matogrosso.