Empresários do Mercosul e UE debatem negociações comerciais

29/10/2003 - 11h50

Milena Galdino
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Preocupados com a lentidão das negociações governamentais nos organismos multilaterais, empresários do Mercosul e da União Européia se reúnem hoje e amanhã em Brasília para buscarem outras perspectivas no comércio entre os dois blocos.Divididos em grupos de trabalho, eles debatem temas como acesso a mercados, investimentos, serviços e cooperação em projetos. O objetivo desta plenária do Fórum Empresarial Mercosul União Européia é elaborar sugestões para que a negociação oficial seja mais ágil.

"Passamos anos negociando, agora já é hora de agir. Esperamos que daqui saiam avanços claros", disse o ministro do Interior da Argentina, Aníbal Domingo Fernández. Mesmo querendo chegar ao consenso, ele foi duro quanto às novas políticas agrícolas da União Européia. "Para nós é impossível prosseguir nas tentativas de acordo se os mercados europeus continuarem fechados. Somos um grupo de mais de 200 milhões de habitantes, com imensas riquezas naturais e nenhum conflito étnico ou bélico", valorizou o argentino.

O discurso de Domingo Fernández ganhou força com a afirmação de Carlos Mariani Bittencurt, presidente da Petroquímica da Bahia, de que o Brasil, apesar de seus produtos agrícolas representarem a metade das exportações brasileiras à União Européia, busca também a diminuição das tarifas de manufaturados.

Por outro lado, os europeus questionam dos colegas empresários do Mercosul quais seriam as prioridades do bloco econômico. "Na minha lista de discussão, a questão agrícola aparece em último lugar. É preciso falar de agricultura, mas há muitos outros pontos a serem discutidos", afirmou Karl Falkenberg, diretor da comissão negociadora da União Européia.

Ele lembrou que a União Européia é o maior mercado consumidor das exportações do Mercosul. "Como o maior cliente, devemos ser muito bem tratados", brincou, demonstrando que mesmo no campo empresarial, o embate entre os dois blocos pode terminar sem solução.

Ingo Plöger, um dos presidentes do Fórum Empresarial pelo lado do Mercosul, avalia o encontro como uma terceira via para a discussão que hoje emperra o comércio externo. "Nas relações humanas, quando há um impasse entre duas pessoas, às vezes a melhor maneira de se resolver é chamando uma terceira que servirá como mediadora da situação. Neste momento, o Fórum Empresarial pretende ocupar o papel de mediador para desemperrar as negociações entre os dois blocos", sintetizou.

Para Plöger, os resultados da plenária – cujo fim está marcado para amanhã – devem ser positivos. "Com todos os problemas comerciais, as relações da União Européia e Mercosul geraram, na última década, 400 mil postos de emprego para cada um dos blocos. Se passarmos por cima dessas questões, o crescimento de ambos será bem maior", prevê.