Primeiro ouro olímpico do judô brasileiro faz 15 anos

30/09/2003 - 11h04

Brasília, 30/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - São 35 anos nos tatames. Duas medalhas olímpicas e três mundiais. Um marco no judô brasileiro. O ex-meio-pesado Aurélio Miguel, comemora
hoje os 15 anos de sua mais importante conquista: o ouro nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Hoje coordenador de judô do São Paulo Futebol Clube, que conta com o também campeão olímpico Rogério Sampaio como técnico, Aurélio tem planos para iniciar seu projeto social
em breve, na área do Butantã, em São Paulo, e acredita: "Estou fazendo minha parte".

Qual a imagem que fica do ouro olímpico em 1988?
Aurélio: A cena que vem à cabeça é aquela minha ajoelhado, com os braços levantados. Depois vem a fantasia, o não acreditar que aquilo aconteceu. E finalmente o Hino Brasileiro, com a bandeira tremulando.

O que significou essa medalha para você?
A: Foi a realização de um sonho.

E para o judô brasileiro?
A: O judô no Brasil sempre teve um nível alto, com judocas de várias gerações se destacando, desde Lhofei Shinozawa, Chiaki Ishii, Douglas Vieira, Walter Carmona e outros. Mas acho que meu ouro mudou a mentalidade. Mostrei que era possível ganhar. Antigamente, pensávamos
que era impossível derrotar um oriental, um judoca do leste europeu. Faltava intercâmbio, faltava muita coisa. Quando fui ao Mundial Universitário em 1982, achava que encontraria dragões de sete cabeças pela frente. Mas não foi nada disso. Eles são iguais a nós e quando venci em Seul, outros atletas começaram a acreditar também. Tanto que veio outro ouro em 1992, com o Rogério, e mais medalhas nas olimpíadas seguintes.

O que mudou no judô de 1988 para cá? Podemos pensar em mais medalhas?
A: Hoje, o judô tem uma boa estrutura. Não quero apontar nomes, mas há grandes atletas e outros tantos vindos da categoria júnior, que podem ser medalhistas olímpicos também.

Você acha que o ouro em Seul foi importante para popularizar o judô no Brasil?
A: Sim. Eu fiz a minha parte. Depois da conquista, nunca deixei de atender a qualquer solicitação da imprensa, nunca me neguei a receber homenagens… Fiz tudo. Esse é o meu papel: divulgar e popularizar o esporte. Agora, os outros é que têm de fazer o deles. Os campeões de hoje
precisam ter consciência da importância de atingir a notoriedade. A partir daí, eles passam a representar o judô e não a si próprios. E precisam se doar.

Faltou alguma coisa na sua carreira?
A: Eu queria o bicampeonato olímpico. E estava muito próximo da vaga na final em 1996. Havia muita pressão. Arrisquei um golpe e acabei ficando com o bronze. Também queria o título mundial. É o único título que não tenho. Ganhei um bronze e duas pratas em mundiais e participei de quatro campeonatos mundiais na minha vida, sendo que nem considero que fui ao de 1999, pois estava com problemas pessoais e ainda briguei com a então direção da Confederação Brasileira de Judô.

Como é sua rotina como coordenador de judô no São Paulo? Você consegue ficar longe do tatame?
A: Estamos passando por uma reestruturação no departamento e, hoje, contamos com 70 atletas. O objetivo é chegar a 150. Volta e meia treino com eles. Não dá para ficar longe.

As crianças sabem quem é Aurélio Miguel?
A: Sim. Não tenho do que reclamar. O assédio existe e é gostoso.

Quais os seus planos?
A: Quero iniciar um projeto social para crianças carentes na área do Butantã, em São Paulo.

AURÉLIO MIGUEL:
Nome completo: Aurélio Fernandez Miguel
Data e local de nascimento: 10/3/1964, em São Paulo/SP
Principais conquistas:
Ouro nos Jogos Olímpicos de Seul (1988)
Bronze nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996)
Campeão Mundial Júnior (1983 - Porto Rico)
Campeão Mundial Universitário (1984 - França)
Campeão dos Jogos Pan-Americanos (1987 - EUA)
Campeão Pan-Americano (1982/85/86/88/92/96 e 97)
Vice-campeão Mundial em 1993 (Canada) e 1997 (França)
Bronze no Mundial de 1987 (Alemanha)
Vice-campeão na Universíade de Kobe (1985 - Japão)