Diário da Alfabetização - ''Dedos limpos''

22/09/2003 - 10h49

Rio, 22/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - Maria José Norberto, 34, dona-de-casa, descobriu que não poderia mais viver sendo analfabeta quando ouviu de sua filha de 10 anos: "Nossa, mãe! A senhora está muito burra". A menina, que cursa a quarta sériedo ensino fundamental, precisava de ajuda no dever de casa. "Nunca me senti tão mal na minha vida, fiquei arrasada. Chorei o dia inteiro e decidi que iria começar a estudar", contou.

Maria José nasceu na Paraíba e começou a trabalhar aos 10 anos de idade. Era ela quem cuidava dos 18 irmãos, enquanto os pais aravam a terra seca. Aos 14 anos, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou em diversas casas de família e estabelecimentos comerciais. Casou-se cedo, tem três filhas.

Há duas semanas, Maria José está matriculada num dos postos de alfabetização mantidos pela Fundação Oswaldo Cruz, na Favela da Maré. Entre tantos sonhos, um muito simples, o de trocar todos os documentos. "Nunca mais vou sujar os dedos de tinta, isso é muito humilhante."