Lia Rangel
Enviada especial
Nova York - Chega ao fim a primeira batalha travada pela equipe brasileira no dia que precede a abertura dos trabalhos da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas. Na disputa por um lugar de liderança nas discussões de assuntos de interesse da comunidade internacional, Luiz Inácio Lula da Silva deixou claro o papel que pretende ocupar nas negociações fora do país.
O presidente brasileiro condenou as ações terroristas, criticou a invasão do Iraque e outras atitudes julgadas como arbitrárias por parte do governo norte-americano. Lula ofereceu um almoço a Kofi Annan para reiterar seu apoio à reforma da ONU. Discutiu com os presidentes francês e espanhol o fortalecimento do Mercosul e a necessidade de aumentar as relações comerciais, em nível de igualdade, entre os europeus e o Brasil.
"Nossa preocupação com as relações internacionais é grande e queremos reiterar nosso compromisso no revigoramento dos organismos multilaterais, contribuindo para torná-los mais legítimos e representativos", afirmou o ministro Celso Amorim, num balanço dos fatos do dia. Amorim defende a reforma do Conselho de Segurança, da Assembléia Geral e de outros órgãos como o Conselho Econômico Social e a própria Organização Mundial do Comércio. Apesar da firmeza das ações, o chanceler insiste em dizer que a postura do Brasil é de negociação, e não de enfrentamento.
Não foi exatamente assim que Robert Zoellick, representante comercial norte-americano, avaliou o desempenho brasileiro. Em artigo escrito para o jornal britânico Financial Times e publicado ontem, ele afirma que os debates internacionais têm dividido os países. "Os Estados Unidos pediram ao Brasil e a outras potências agrícolas para que trabalhassem juntos. O Brasil recusou-se, preferindo se unir a Índia", afirmou. Para ele, essa atitude caracteriza uma tática para pressionar as nações mais ricas e desviar a atenção de seus próprios entraves comerciais.
Nesta terça (23), novos desafios se impõem. Lula será o primeiro presidente a discursar durante a abertura dos trabalhos da Assembléia Geral das Nações Unidas. Logo em seguida, será a vez de George W. Bush. Espera-se que Bush, ao contrário do que vem sendo defendido por muitas lideranças internacionais, peça o apoio de países para a reconstrução do Iraque em forma de envio de tropas militares. O Brasil negará esse tipo de ajuda. "Defendemos que primeiro seja retomada a autonomia política do povo iraquiano. Só assim a segurança poderá voltar", opina o chanceler.
Após os discursos, Lula encontra-se com o primeiro-ministro alemão, Gerard Schrödere participa de almoço oferecido por Koffi Annan. Em seguida, encontra-se com o presidente de Moçambique, Joaquim Chissano.