Brasília, 18/9/2003 (Agência Brasil - ABr) - O ex-presidente da Unimed de São Paulo, médico José Ricardo Savioli, abriu hoje seus sigilos bancários e fiscais para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do Banestado, entregando cópias recentes de imposto de renda e extratos bancários de suas contas. Ele disse que os depósitos de R$ 2 milhões para o exterior por meio de contas CC-5, em quatro depósitos de R$ 500 mil, feitos em quatro dias distintos, foram declarados no imposto de renda e registrados no Banco Central. Ele negou que tivesse feito um quinto depósito de R$ 500 mil, como era do conhecimento da CPMI, no que foi corroborado pelo relator da comissão, deputado José Mentor (PT-SP). Mentor disse que a operação chegou a ser feita, mas foi cancelada.
O entendimento da CPMI do Banestado é que as operações feitas por José Ricardo Savioli foram lícitas, mas ele não conseguiu convencer os senadores e deputados sobre a origem dos recursos usados nos depósitos ao exterior, feitos por meio do Banco Surinvest, do Uruguai, que usou uma conta no Banco Araucária, do Paraná, para enviar os depósitos à agência do Banestado em Nova York. Os depósitos foram feitos nos dias 18, 19, 21 e 26 de dezembro de 2000.
O que causou estranheza a alguns membros da comissão, como a Senadora Ideli Salvatti (PT-SC), foi o fato de no dia 21 de dezembro de 2000 ter sido decretada a intervenção da Unimed de São Paulo pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e que os bens de todos os diretores da empresa, inclusive José Ricardo Savioli, foram bloquedos e permanecem até hoje indisponíveis. O médico disse que os representantes da ANS somente compareceram na Unimed em fevereiro de 2001.
O médico justificou as remessas, feitas em quatro cheques que eram depositados à medida que ele conseguia a confirmação da realização do depósito precedente, como um meio de proteger "esse numerário" do litígio judicial com sua ex-esposa e justificou sua origem como produto de poupança "de quase trinta anos de uma das mais respeitadas clínicas ortopédicas de São Paulo". Uma parte desse patrimônio, ele justificou como produto da venda de seis "flats" a um grupo uruguaio, numa compra realizada e paga em Montevidéu. O relator José Mentor disse que não ficou clara a origem dos R$ 2 milhões enviados pelo médico ao exterior, mas que isso não era objeto de investigação da CPMI do Banestado.
Na primeira parte da reunião da CPMI do Banestado foi ouvido o ex-governador do Paraná, Jaime Canet Júnior, que admitiu ter feito depósitos no exterior por meio de conta CC-5, mas de forma legal. Ele conseguiu comprovar, perante a comissão, que qualquer possível irregularidade que tenha sido cometida pela corretora do Banco Araucária foi de responsabilidade de diretores da corretora, sem seu conhecimento.
O depoimento do ex-governador, que estava bastante nervoso no início de sua exposição, terminou se transformando em depoimentos de apoio e louvor a sua vida pública, a partir da intervenção dos Senadores (e irmãos) Álvaro e Osmar Dias (PDT-PR), que elogiaram a administração do ex-governador, seu espírito público e sua conduta ilibada na vida política paranaense.
Os elogios foram corroborados por quase todos os parlamentares presentes à comissão, menos pela Senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que requereu a quebra do sigilo bancário das contas do ex-governador, o que não foi deliberado na sessão de hoje. O presidente da comissão, senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), arrematando a posição da maioria dos senadores e deputados da CPMI, disse que "um dos deveres de uma CPI é não esconder fatos, da mesma forma que não pode produzir violências contra pessoas inocentes".