Brasília, 2/12/2002 (Agência Brasil - ABr) - Três mil pessoas, entre professores e estudantes, transformaram hoje, a Conferência Nacional de Educação, Cultura, e Desporto num tribunal. Até a próxima sexta-feira (6), em frente à Câmara dos Deputados, vão julgar a mídia, a política econômica e a pedagogia pela existência de 50 milhões de brasileiros analfabetos e semi-alfabetizados. Organizada pela Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, a conferência pretende envolver parlamentares, jornalistas e a sociedade em geral na discussão sobre as dificuldades enfrentadas por professores e escolas. O objetivo é responder à questão central da conferência: "Por que ainda há quem aprende?"
A programação da Conferência ocorre na parte da manhã e no fim da tarde. Além das sessões que simularão um júri, serão proferidas várias palestras. Entre os destaques estão a palestra da deputada federal e educadora Esther Grossi (PT/RS) e da filósofa argentina Sara Pain, que estuda as relações entre ignorância e aprendizagem. Também está prevista uma exposição do pedagogo francês Gérard Vergnaud, que pesquisa a teoria pós-construtivista de educação. "Todos os palestrantes trarão uma contribuição importante para se compreender melhor a educação no país", afirma a assessora de imprensa da Comissão de Educação, Cultura e Desporto, Márcia Lage.
A professora de ensino fundamental em Brasília Martha Paiva Scardua, já definiu o principal responsável. "Acredito que a política econômica atual não permite valorizar o trabalho do professor com um bom salário e nem aparelhar bem as escolas", opina. Martha, que já foi professora em São Sebastião (DF), conta que já teve que pedir para os alunos trazer material de limpeza de casa para manter o mínimo de higiene.
Já para o professor de História no Rio Grande do Sul, Leonardo Lued, todos (mídia, política econômica e pedagogia) são igualmente responsáveis pela situação. "A mídia reforça preconceitos contra a capacidade de aprendizagem dos pobres, a política econômica não permite um ensino de qualidade e pedagogia não se adapta a realidade brasileira. O poder público só trata desta questão de forma periférica".
Os dois professores concordam que esse tipo de evento é essencial para o intercâmbio de idéias e informações dos professores com especialistas em Educação. Também é um forma de desmascarar políticas públicas demagógicas para a área de ensino.