Cristina Indio do Brasil
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A Anistia Internacional começou hoje (6) a campanha "Escreva por direitos" que até o dia 16 de dezembro vai fazer ações em várias cidades do Brasil como São Paulo, Fortaleza, Curitiba, Belém, Manaus, Goiânia, Brasília, Niterói, Salvador e Dourados (MS) e em diversos países.
No Rio de Janeiro, voluntários da Anistia vão colher até amanhã (7), na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na zona sul da cidade, assinaturas e incentivar as pessoas a participarem da Maratona de Cartas. Nela, quem quiser pode enviar mensagens para autoridades de países onde ocorrem casos de violação dos direitos humanos e ainda para a família de pessoas que sofreram violência.
Este ano, a campanha que começou em 2001, destacou seis casos de violação, dois deles ocorreram no Brasil. Um é sobre o assassinato de jovem negro por policiais militares na Bahia e o outro em comunidades indígenas de Mato Grosso do Sul. No exterior, a entidade ressaltou os casos de um militante dos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), que sofreu agressões na Bielorrússia, a prisão de um ativista por moradia no Camboja, o estupro e a tortura de uma mulher no México e o espancamento de um jovem durante manifestação na Síria.
No ano passado, cerca de 500 mil pessoas participaram da maratona, em 77 países. Foram escritas 1 milhão e 900 mil cartas. O artista plástico, André Amaral deixou a sua assinatura. Para ele, é importante participar porque é preciso chamar a atenção para o desrespeito aos direitos humanos e fazer pressão nas autoridades para a solução do caso.
"Eu tenho essa esperança, mas questões dos direitos humanos e individuais estão ficando, cada vez mais, tão complicadas que temos que ter outros instrumentos de pressão, além desse, para que as coisas aconteçam, no sentido da igualdade, da justiça, dos direitos assegurados para diferentes camadas da população", explicou.
Outro que fez questão de assinar a lista da Anistia foi o músico espanhol Ricardo Muñoz, morador de Barcelona, que está no Rio a passeio. Ele disse que quis participar para dar voz a outros que não podem fazer com que os seus casos sejam divulgados. "Sempre é positivo que alguém pressione os governos para a busca de soluções", contou.
O cientista político e assessor de Direitos Humanos da Anistia, Maurício Santoro, informou que a campanha ocorre nos países onde a Anistia Internacional está presente e representa o maior evento mundial de direitos humanos. Ele destacou que para quem sofre com as violações o recebimento das correspondências representa um apoio. "É uma carta de solidariedade, na qual o ativista expressa um sentimento de apoio e de fraternidade para uma pessoa que está sofrendo uma situação de ameaça ou à família", acrescentou.
Para Maurício Santoro, é preocupante o caso dos índios guarani-kaiowás que vivem às margens da Rodovia BR-463, entre as cidades de Dourados e Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul, que lutam para conseguir a demarcação das terras que consideram ser de seus ancestrais. Por isso, são ameaçados por seguranças de fazendeiros e vivem uma situação de suicídios. "Foram mais de 300 guarani-kaiowás assassinados nos últimos dez anos e, além disso, eles vivem uma epidemia de suicídios, mais ou menos um por semana ao longo dessa década, o que é muito numeroso para uma comunidade que tem cerca de 50 mil pessoas", declarou.
O advogado Alexandre Ciconello, também assessor de Direitos Humanos da Anistia, acompanha de perto o caso do baiano Jorge Lázaro que, em janeiro de 2008, teve o filho Ricardo assassinado quando jogava futebol em Salvador. Ele explicou que as investigações apontam para a participação de policiais militares. Em março deste ano, Jorge Lázaro perdeu mais um filho, Ênio, que desapareceu e depois foi encontrado morto com marcas de violência.
"A família sofreu ameaças, entrou para o Programa de Proteção de Testemunhas e isso desestruturou a família. Foram denunciados três policiais militares. E o outro filho foi assassinado em circunstâncias que a gente não sabe porque não foi feito nenhum tipo de investigação. Ao lado do grande número de homicídios tem a grande impunidade", disse.
De acordo com dados da Anistia cerca de 77% dos jovens assassinados no Brasil são negros e mais de 90% dos inquéritos de homicídios são arquivados antes de se tornar denúncia.
Segundo a Anistia Internacional, não foi por acaso que foi escolhido este período para fazer a maratona. Quando lançou a Declaração Universal sobre Direitos Humanos, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o dia 10 de dezembro como o Dia Internacional dos Direitos Humanos. As ações da Maratona de Cartas podem ser acompanhadas no site maratonadecartas.org.br.
Edição: Aécio Amado
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