Em conferência na Rússia, países discutem papel da energia nuclear

27/06/2013 - 20h06

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Representantes de mais de 80 países, entre os quais o Brasil, participam a partir de hoje (27) da Conferência Ministerial Internacional sobre Energia Nuclear, promovida pela Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) em São Petersburgo, na Rússia. O evento foi organizado pela estatal russa de energia nuclear, a Rosatom, líder no mercado mundial de tecnologias nucleares. A conferência termina no sábado (29).

O evento pretende discutir o papel da energia nuclear na mitigação das mudanças climáticas, bem como no cenário de crescente demanda global por energia. A questão da segurança das usinas no projeto de ampliação da participação da energia nuclear na matriz energética dos países terá destaque no encontro. De acordo com dados da Aiea, essa fonte de energia deverá ampliar a participação na matriz energética mundial em pelo menos 23% até 2030. Atualmente, 194 usinas nucleares estão em funcionamento no mundo, com capacidade total de 372 gigawatts (GW), informou a assessoria da conferência.

O diretor da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, disse que os países fizeram uma análise da segurança de suas usinas nucleares após o acidente em  Fukushima, no Japão. Em março de 2011, um terremoto seguido de tsunami provocou explosões e vazamentos na usina

Segundo ele, os países estão alterando procedimentos de segurança ou fazendo modificações nas próprias unidades nucleares, “de tal modo que aumente a segurança em relação aos fatores que provocaram o acidente de Fukushima”. A iniciativa atende à orientação da Aiea, que fez uma análise detalhada sobre o acidente no Japão e elaborou um relatório com recomendações para ampliar a segurança das usinas em todos os países.

Kuramoto destacou que, no Brasil, a Eletronuclear está investindo na implementação de sistemas de segurança não só para as usinas em funcionamento (Angra 1 e 2), mas também para a Angra 3, atualmente em construção na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, no município fluminense de Angra dos Reis.

Para o diretor da Aben, o Brasil está bem posicionado em relação à segurança das usinas nucleares. “Principalmente se levarmos em conta que o Brasil não está sujeito a eventos naturais externos que deram início ao acidente de Fukushima”, disse.

Ele salientou que a Eletronuclear levou em consideração, no reforço do sistema de segurança das usinas, a possibilidade de inundações e deslizamento de encostas, em decorrência da forte chuva que costuma atingir a região, principalmente no verão. “Em relação a isso, as usinas brasileiras têm acompanhado o padrão internacional no que se refere às normas de segurança das unidades nucleares.”

Kuramoto defendeu a criação de uma agência independente nos países que desenvolvem energia nuclear, incluindo o Brasil, que responderia pela fiscalização e pelo licenciamento das instalações nucleares. A medida também foi recomendada pela Aiea. Segundo o diretor da Aben, um projeto nesse sentido já está em andamento no Brasil.

Atualmente, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), por meio de sua Diretoria de Licenciamento e Fiscalização, exerce esse papel. O diretor da Aben acredita, entretanto, que a agência dará mais independência aos trabalhos de fiscalização e licenciamento das usinas nucleares.

Sobre a possibilidade de a estatal russa Rosatom trazer sua tecnologia para o Brasil, Kuramoto avalia que isso poderá dar dinamismo ao setor nuclear nacional, “dependendo de como será encaminhado um acordo com a Rosatom”. Ele lembrou que a estatal russa é um conglomerado industrial que não só projeta e constrói usinas nucleares, mas responde também por sua operação. A empresa tem hoje 28 projetos de construção de usinas em andamento, sendo 19 fora da Rússia.

Sobre a participação da iniciativa privada no setor nuclear, o diretor da Aben lembrou que tramita no Congresso uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que autoriza o aumento da participação do setor privado dos atuais 49% para 100% na construção e operação de usinas. A estatal Eletronuclear detém a maior participação.

Para ele, a mudança pode ser positiva, no sentido de ampliar o parque nuclear instalado no país. “Representaria uma consolidação da indústria nuclear no Brasil.”

O programa nuclear brasileiro faz parte do planejamento energético para o país até 2030, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Segundo Edson Kuramoto, o país conta com a construção de novas usinas nucleares para aumentar a capacidade de geração de energia instalada.

A energia nuclear não emite gases de efeito estufa em sua geração. Além disso, destacou o diretor, as usinas podem gerar energia em grande escala.

Edição: Juliana Andrade

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