Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Além de promover a inclusão social, a gratuidade do transporte público traz impactos positivos à economia, segundo ex-secretario municipal de Transportes de São Paulo, Lúcio Gregori. “É uma bruta inclusão social. Mais do que isso, tem efeitos positivos na economia, porque as pessoas vão consumir mais. As pessoas chegam a mais lugares para consumir coisas: ao teatro, ao cinema, à festa, ao bar, à escola, em todos os lugares tem mais gente chegando”, disse ao participar de uma aula pública em frente à prefeitura paulistana organizada pelo Movimento Passe Livre (MPL).
A calçada, que ficou lotada na noite de hoje (27) de jovens sentados para escutar a palestra, ainda tinha cacos de vidro remanescentes do último protesto do movimento, no dia 18, pela redução das tarifas de ônibus, trens e metrôs. Na ocasião, as vidraças da prefeitura e de duas agências bancárias na Praça do Patriarca foram depredadas. A revogação do aumento que tinha elevado as tarifas do transporte público de R$ 3 para R$ 3,20 na capital foi anunciada no dia seguinte pelo prefeito Fernando Haddad e o governador Geraldo Alckmin. Também participou da aula o professor aposentado do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo, Paulo Arantes.
Quando participou da administração da prefeita Luiza Erundina na capital paulista, Gregori elaborou o Projeto Tarifa Zero, que pretendia subsidiar integralmente as passagens de ônibus com o aumento de impostos progressivos, especialmente o de Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU). O ex-secretário ainda defende o mesmo modelo para implantação do sistema em grandes cidades. “É óbvio que tem que arranjar dinheiro novo, alavancando o IPTU de grandes propriedades e de imóveis de luxo”, disse ao explicar que a proposta está ligada a uma reforma que torne a carga tributária mais justa.
“A sociedade brasileira é rica o suficiente para fazer uma política tributária em que os mais ricos contribuam para todos viverem em uma cidade que muda inteiramente com a gratuidade dos transportes”, acrescenta ao lembrar da desigualdade do sistema atual. “O Brasil tem uma carga tributária inversa do que tem que ser: quem ganha até dois salários mínimos paga mais imposto do que quem ganha mais do que 20. Quem ganha até dois salários paga 50%, quem ganha mais de 20 salários paga 26%, alguma coisa está errada”.
Gregori descarta ainda a vinculação da tarifa zero com a estatização do sistema de transportes. “Por acaso a coleta de lixo é estatal? Não tem nada a ver uma coisa com a outra”, compara. “Tem que pagar o custo operacional de uma frota contratada do setor privado, com planilha discutida publicamente e claramente. E não se cobra nada do passageiro”.
Edição: Fábio Massalli
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