Navio que funcionou como base para pesquisadores na Antártica volta ao Rio de Janeiro

18/04/2013 - 14h20

Vitor Abdala
Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro – O navio de pesquisa antártico Almirante Maximiano retornou hoje (18) à capital fluminense encerrando sua participação na trigésima primeira Operação Antártica (Operantar) brasileira. O navio ficou mais de seis meses no mar e substituiu a Estação Antártica Comandante Ferraz, destruída por um incêndio em fevereiro de 2012, como principal base dos pesquisadores brasileiros neste verão.

Segundo a Marinha, 105 pesquisadores se revezaram nesse período, usando os cinco laboratórios do navio e utilizando-o como meio de locomoção pelas diversas ilhas da Antártica. Especialista no estudo de aves, a pesquisadora Maria Virgínia Petry, que participa de missões antárticas desde 1984, disse que algumas pesquisas foram prejudicadas com a falta de uma base em terra.

Esse, entretanto, não foi o caso do projeto da pesquisadora, que utiliza os refúgios brasileiros existentes em ilhas como a Elefante. “Muitas pesquisas que eram desenvolvidas na base não puderam ser desenvolvidas este ano. No nosso caso, a estação servia de apoio para irmos aos pontos de reprodução das aves. A gente teve esse apoio com o navio e cumprimos 120% do que estava previsto para este ano”, disse a cientista.

De acordo com o comandante Newton Pinto Homem, o navio pôde usar integralmente seu potencial porque substituiu, em parte, a estação Comandante Ferraz. “Neste ano, teve muito mais atividades a bordo. Os cinco laboratórios ficavam sempre lotados, com muita gente trabalhando. Como comandante de um navio de pesquisa, me dá muita satisfação ver o navio sendo usado a 100% pelos pesquisadores”, disse.

O militar, que participou de sua segunda missão como comandante do navio de pesquisa, conta que a embarcação também foi usada para levar cientistas aos abrigos espalhados pelas ilhas. E foi justamente em uma dessas movimentações, próximo à Ilha Elefante, que o navio passou por seu momento mais difícil na missão deste verão.

“A quantidade de gelo estava muito grande. E, durante um procedimento de pesquisa, me vi cercado por um campo de gelo. Foram 18 horas direto de navegação em meio a um campo de gelo denso por 70 milhas. Eu naveguei a 4 quilômetros por hora. A pé eu teria ido mais rápido. Foi uma situação difícil que exigiu bastante do navio”, disse.

Segundo o comandante, em uma situação extrema, mesmo com a capacidade de quebrar gelo, o navio poderia ter ficado preso por algum tempo. “Mas como era no meio do verão, mesmo que o gelo me prendesse, me prenderia por pouco tempo. A preocupação era dar uma pancada mais forte no gelo para não ferir a chapa do navio”, disse.

Para alguns dos 81 tripulantes, no entanto, navegar em meio ao gelo nem foi o maior desafio. Nos meses que passou longe da família, o militar Eduardo Canejo perdeu, por exemplo, o nascimento de seus bebês gêmeos, que nasceram 11 dias depois de o navio zarpar do Rio de Janeiro.

O retorno à cidade não foi apenas um reencontro, mas o momento em que segurou seus filhos, já com seis meses de idade, pela primeira vez. “São meus primeiros filhos. Logo dois. Não pude conter a emoção nesse momento. Fiquei muito nervoso. Mas estou feliz que eles estão com saúde e a família está toda bem”, disse.

A próxima Operantar será realizada no final deste ano. Desta vez, os pesquisadores já poderão contar com os módulos emergenciais implantados na área onde ficava a antiga Estação Comandante Ferraz. Os módulos abrigarão os cientistas até que uma nova estação seja reconstruída.

 

Edição: Lílian Beraldo

 

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