“Entre alguma coisa e nada, optamos por alguma coisa”, diz índio que saiu da Aldeia Maracanã

25/03/2013 - 17h13

Vinícius Lisboa
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Depois do confronto entre manifestantes e policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar na última sexta-feira (22), os 13 índios que fizeram acordo para deixar o antigo Museu do Índio - ao lado do Estádio Jornalista Mário Filho, o Maracanã - passaram a primeira noite no abrigo provisório, contêineres instalados na Colônia Curupati, na zona oeste do Rio, para onde foram levados ontem (24).

O pataxó Garapirá, vice-cacique do grupo, disse que a proposta de sair sem resistência do antigo Museu do Índio foi aceita por falta de garantias de que teriam uma oportunidade melhor se continuassem no prédio com os manifestantes e os outros indígenas, até a retirada compulsória.

"Entre alguma coisa e nada, optamos por alguma coisa. Temos um projeto de contar histórias em escolas e queremos continuar com isso", disse o pataxó, que nasceu no sul da Bahia e morava no prédio abandonado desde outubro de 2006.

Outro grupo de índios que deixou a chamada Aldeia Maracanã não fez acordo com o governo do Rio de Janeiro e passou o domingo negociando com o juiz federal Wilson José Witzel sem conseguir uma solução. Eles foram levados para a Justiça Federal depois de desalojados durante a madrugada do Museu do Índio, em Botafogo, que haviam ocupado no sábado (23).

O vice-cacique Garapirá conta que a ida para a Colônia Curupati foi opção do grupo, que pôde escolher entre um terreno em Bonsucesso, um espaço na Quinta da Boa Vista e o local em que estão, onde será construída a aldeia definitiva.

"Aqui é mais tranquilo e mais perto da natureza que nas outras opções. Tudo o que queremos agora é paz. Queremos trabalhar com ecoturismo e ajudar a reflorestar a região com mudas de pau-brasil, jacarandá e outras árvores nativas", explicou.

Apesar disso, a escolha pode se tornar um empecilho à venda de artesanato, uma das principais atividades econômicas do grupo, que está agora em um local menos movimentado e mais recluso: "Vamos pedir ao governo que nos dê um espaço na Quinta da Boa Vista para podermos vender nosso artesanato. Vai ser melhor do que vender na rua, porque muitas vezes somos confundidos com camelôs e tomam nossas coisas".

Outra fonte de renda que o grupo mantinha era contar histórias no próprio museu abandonado e em escolas públicas e particulares, onde faziam apresentações com comidas típicas e histórias. Além de sobreviverem com o dinheiro obtido, eles enviavam parte para as famílias, em tribos de várias partes do país. Segundo Garapirá, os 13 indígenas representam dez etnias diferentes.

As atividades, no entanto, foram comprometidas desde o acirramento da tensão no museu, que teve sua população ampliada de pouco mais de 20 pessoas para mais de 150 em alguns dias, com a chegada de mais índios e integrantes de movimentos sociais.

"Estávamos há quase dois meses sem conseguir trabalhar. A última visita que receberíamos seria em 9 de janeiro, mas foi cancelada. Acabamos ficando sem privacidade e vivíamos sob muita tensão, esperando a desocupação. Nosso psicológico estava abalado", explicou.

Garapirá conta que eles agora esperam trabalhar na construção da nova aldeia, que já recebeu o nome de Muca Mucau, que quer dizer "a união de todos os povos" na língua pataxó. Sobre o antigo Museu do Índio, o vice-cacique torce: "Queremos que continue sendo um espaço dedicado à cultura indígena"

Quanto à estrutura provisória montada pelo governo do estado em seis contêineres, o pataxó diz que não há problemas, apesar de uma chuva ter alagado a cozinha ontem, no início da primeira noite no abrigo: "Já consertaram tudo hoje", mostra ele. O cômodo, com fogão, geladeira, pia e materiais levados pelos próprios índios é o único que não é fechado no teto, sendo coberto apenas pela tenda de lona que protege todos os contêineres do sol e da chuva.

Além da cozinha, dois quartos ficam em mais dois contêineres, cada um com três camas e beliche. Para driblar o calor da pouca ventilação, eles têm dois ventiladores em cada quarto. Garapirá disse que os índios pediram um novo quarto, com camas de casal, já que há três casais no grupo. Outros três contêineres são os banheiros: um para homens, um para mulheres, e um coletivo.

Edição: Davi Oliveira

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