Venezuela vive momento de indefinição e incertezas após retorno de Chávez, diz ONG

04/03/2013 - 20h55

Leandra Felipe
Correspondente Agência Brasil/EBC

Bogotá-  Quinze dias após o retorno de Hugo Chávez à Venezuela, o país vive um momento de indefinição e incertezas, que se reflete nas manifestações de estudantes e da oposição e na expectativa do eleitorado do presidente de que ele possa se recuperar e voltar a governar o país. A avaliação é do presidente da organização não governamental (ONG) venezuelana, Ojo Electoral (Olho Eleitoral), Luis Lander.

O presidente não aparece em público há 80 dias, desde que viajou a Cuba para ser operado pela quarta vez para tratamento de um câncer. Ele continua internado no Hospital Militar de Caracas e é submetido a quimioterapia, segundo a última informação divulgada pelo governo venezuelano.

Embora tenha usado seus ministros e o vice-presidente Nicolás Maduro para dissipar rumores sobre a piora do estado de Chávez e informar sobre a saúde dele, o governo não sinaliza o que acontecerá nos próximos dias e não informa uma data possível para o juramento do presidente, adiado pelo Tribunal Superior de Justiça (TSJ), mas legalmente necessário ao novo mandato. 

A Agência Brasil conversou com Lander, que fez uma análise do momento vivido pelo país. Para  Lander, a equipe do governo venezuelano parece não ter “segurança”  sobre o cenário eleitoral sem a presença de Chávez e, por isso, ainda não foram tomadas medidas concretas, como o juramento do presidente para o novo mandato e uma especulada renúncia para a convocação de novas eleições, como define a Constituição do país. Leia a seguir a entrevista:

Agência Brasil: Chávez voltou à Venezuela há 15 dias. O que mudou com seu retorno?
Luis Lander: Esperava-se que, com o retorno de Hugo Chávez ao país, o mistério relacionado ao seu estado de saúde seria esclarecido, mas isso não aconteceu. O governo continua com o controle da informação sobre a saúde do presidente e as informações são repassadas à medida que chegam pressões de opositores ou boatos sobre a piora dele aparecem na mídia. O problema é que a falta de notícias sobre o que realmente está acontecendo acaba gerando novas especulações e alimentando boatos, que podem até ser falsos, mas provocam reações populares.

Agência Brasil: Mas se a falta de informações acaba “fabricando” rumores, porque o governo não adota uma estratégia mais transparente?
Luis Lander: O porquê também não é claro, mas há hipóteses. Uma delas é que o governo precisa de tempo para consolidar melhor o nome de Nicolás Maduro entre os eleitores chavistas. O que parece é que o governo chavista precisa da imagem de Chávez. A transferência de votos não é tão natural como o governo esperava. O eleitor de Chávez não necessariamente votará em Maduro, ainda que as pesquisas hoje apontem seu favoritismo sobre a oposição. Por exemplo, a abstenção na campanha presidencial em outubro do ano passado, com Chávez candidato, foi 10%. Nas eleições regionais em dezembro, com Chávez apoiando as eleições, mas sem ser o candidato, foi 50%. O eleitor de Chávez não é automaticamente eleitor de Maduro.

Agência Brasil: Mas o governo não tem a vantagem?
Luis Lander: Tem a vantagem e tem o aparato governamental a seu serviço, mas isso não garante certeza de vitória. Primeiro porque cerca de 70% do eleitorado de Chávez acreditam que ele conseguirá se recuperar e voltar. O governo tem que construir um cenário sem a presença de Chávez, com a sua imagem 100% presente nas ações governamentais. É isso que estão tentando fazer.  Mas eu repito, o governo ainda não tem segurança sem Chávez. O mundo perfeito para o governo seria que Chávez se recuperasse para assumir o mandato e terminar de preparar o terreno para Maduro.

Agência Brasil: E a oposição? E as manifestações estudantis que pedem a verdade sobre a saúde do presidente? Qual o reflexo na sociedade?
Luis Lander: A oposição joga com a falta de informações sobre Chávez, desqualificando as medidas adotadas pelo governo sob a liderança de Maduro. Por exemplo, Capriles desqualifica o pacote econômico que desvalorizou o bolívar ante o dólar. Pretende-se mostrá-los como ‘despreparados’. Por outro lado, as manifestações de estudantes ainda não são massivas. A meu ver são atos isolados e não são feitos por todos os setores descontentes. Somente os estudantes estão protestando.

Agência Brasil: Mesmo em meio às incertezas, no que o senhor aposta hoje?
Luis Lander:  A única certeza que tenho é que Chávez está doente. Se tivesse condições de aparecer já teria feito isso. O governo parece querer ganhar tempo para fortalecer a imagem de Maduro perante o eleitorado. Também acredito que a renúncia de Chávez acontecerá, mas isso também depende do juramento e de ele ter condições. A análise mais importante neste momento não é especular sobre a saúde do presidente, mas o que estão fazendo para contornar possíveis cenários que se desenvolvam no país, a partir da recuperação ou da piora no estado de saúde do presidente. 

Edição: Fábio Massalli

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