Atualizada - Invenção que pode ser atribuída a um brasileiro, rádio se integra às novas tecnologias

13/02/2013 - 19h42

Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Atribuída comumente ao italiano Guglielmo Marconi, a paternidade do rádio - cujo dia mundial é comemorado hoje (13) - é motivo de polêmica. A exemplo do que ocorreu com outras grandes invenções, ela foi fruto de uma sucessão de descobertas e tentativas, que, na época, nem sempre alcançaram a devida repercussão. Esse foi o caso do padre gaúcho Roberto Landell de Moura (1861-1928), um pioneiro que o Brasil hoje começa a reconhecer e que antecedeu em dois anos à experimentação de Marconi, datada de 1895.  

Alguns anos antes, em 1873, o físico britânico James Maxwell havia constatado a existência de ondas eletromagnéticas que se propagavam pelo espaço. Em 1887, o físico alemão Heinrich Hertz, a partir da hipótese de Maxwell, conseguiu fazer a transmissão e a recepção de ondas eletromagnéticas, ainda que com equipamentos colocados a poucos metros de distância um do outro.

De acordo com o jornalista e escritor Hamilton Almeida, autor de quatro livros sobre o tema, há indícios de que Landell de Moura fez suas experiências pioneiras de transmissão da voz humana de 1893 a 1894, em São Paulo, cobrindo uma distância de 8 quilômetros. “Tais experiências aconteceram entre dois locais altos da cidade, a Avenida Paulista e o pátio do Colégio Santana, ainda existente”, diz Hamilton Almeida. “O fato é que Landell inventou o rádio porque transmitiu a voz – se dizia radiotelefonia, na época – enquanto Marconi inventou a telegrafia sem fio [radiotelegrafia] e não o rádio como o conhecemos”, explica.

O padre Landell de Moura também aperfeiçoou a já existente invenção do telégrafo sem fio, conforme atesta patente obtida nos Estados Unidos, em 1904. Hamilton Almeida destaca a preocupação de Landell de patentear seus inventos. “Ele também obteve nos EUA uma patente intitulada wireless telephon, que se refere à transmissão de mensagens sem fio através de um feixe luminoso, o mesmo princípio das fibras ópticas, desenvolvidas a partir dos anos 1980, e no Brasil, em 1901, conseguiu a patente que pode ser considerada a certidão de nascimento do rádio no mundo”, relata.

Para o radialista Cristiano Menezes, gerente-geral das rádios da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) no Rio de Janeiro, “Landell era um sacerdote, uma pessoa recatada, e talvez por isto foi posto de escanteio, à margem desse processo, enquanto o Marconi, um europeu, um acadêmico, conseguiu repercussão para o seu invento e ficou na história como o criador do rádio”, disse. Juntamente com o veterano radioator e apresentador Gerdal dos Santos e o jornalista Luis Augusto Gollo, Cristiano Menezes participou do programa especial sobre o Dia Mundial do Rádio que as emissoras da EBC veicularam nesta quarta-feira (13).

Já como meio de comunicação, e não mais apenas como invento, o rádio chega ao Brasil em 1922, pelas mãos do cientista e educador Edgard Roquette Pinto. Ele faz a primeira transmissão no dia 7 de setembro daquele ano, durante a inauguração da exposição internacional comemorativa do Centenário da Independência. Menos de um ano depois, em 20 de abril de 1923, entrava no ar a primeira emissora, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, hoje Rádio MEC, uma das emissoras da EBC.

Mais de um século após sua invenção, o rádio demonstra uma imensa capacidade de renovação e adaptação às novas tecnologias, como destaca a professora Sonia Virginia Moreira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), autora de livros sobre a história do veículo. Para ela, o rádio é sempre aberto, democrático e sensível a todas as transformações.

“É um meio que consegue se adaptar a situações muito distintas. Quando surgiu a televisão, o rádio viveu seu maior momento de crise, mas conseguiu se superar em pouco tempo, renovando sua linguagem, como meio de comunicação prestador de serviços e canal de entreternimento. Mais recentemente, o rádio integrado à internet vem comprovar essa maleabilidade do meio”, diz a professora.

Para Cristiano Menezes, o rádio digital é o futuro, em matéria de tecnologia, mas a linguagem característica do veículo se manterá, por mais que surjam diferentes plataformas. “Há um novo ouvinte, que já procura o novo rádio, pela internet, os vários meios de comunicação hoje se complementam, há toda uma convergência de mídias, a digitalização já se anuncia, é o futuro, mas o veículo será sempre rádio”. 
 

Edição: Graça Adjuto e Carolina Pimentel//A matéria foi atualizada para esclarecer que as experiências pioneiras de Roberto Landell ocorreram de 1893 a 1894, e não de 1892 a 1893. Landell aperfeiçoou o telégrafo sem fio. Ele não foi o inventor, como dito anteriormente

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