Coluna da Ouvidoria – Uma ou duas fontes?

07/01/2013 - 18h29

Brasília – No dia a dia do jornalismo, é cada vez mais comum os jornalistas acatarem sem questionamento informações transmitidas em declarações de autoridades – sejam elas executivos do governo ou de empresas privadas. No entanto, são muitas as informações, passadas com muita rapidez, e os jornalistas frequentemente acabam dependendo de informativos distribuídos no local do evento, de releases enviados às redações ou de notícias publicadas em sites oficiais para conferir os dados usados em suas matérias. Nesse ponto, pode haver discrepâncias que passam despercebidas.

Uma dessas divergências foi descoberta no desenrolar do atendimento a uma leitora de São Paulo, Lighia Brigitta Horodynski Matsushigue, que escreveu à Ouvidoria no dia 11 de dezembro, reclamando que os números apresentados em matéria publicada pela Agência Brasil no dia 6 de dezembro de 2012 destoam da realidade. A matéria intitulada Ensino superior teve melhora generalizada nos últimos três anos, diz Mercadante contém a seguinte informação: “Foi divulgado o Conceito Preliminar de Curso (CPC), que avalia exclusivamente cursos de graduação. O índice considerou 4.403 universidades – sendo 2.642 públicas e 1.761 privadas – além de 2.245 faculdades e 928 centros universitários.”

A leitora comentou: “Estou preocupada com a falta de precisão das notícias veiculadas ultimamente. Apenas hoje vi duas coisas insólitas: o país teria mais de 4 mil (pasmem!!) universidades públicas, além de faculdades e centros universitários; e a avaliação destas todas as IES [instituições de ensino superior] públicas e privadas é tão melhor que, percentualmente (!!), todos os valores são maiores em 2011 do que em 2008... Gente!! Isso depõe contra a EBC, mas também, e muito, contra o MEC. Vamos corrigir isso?”.

Embora a leitora tenha generalizado as mais de 4 mil universidades como públicas, o que mais a  incomodou  foi a afirmação de que “o índice considerou 4.403 universidades, 2.245 faculdades e 928 centros universitários”, o que daria um total de 7.576 instituições de ensino superior. Este número é excessivo e não corresponde à quantidade de instituições existentes no país.

A reclamação da leitora foi encaminhada à Diretoria de Jornalismo no dia 12 de dezembro. A resposta veio no dia seguinte: “Gostaríamos de esclarecer que os dados... publicados pela Agência Brasil, no dia 6 de dezembro, estavam corretos, de acordo com o que foi divulgado pelo Ministério da Educação (MEC). Mas, como o MEC divulgou novas informações hoje, dia 13, com dados diferentes dos que tinha nos informado, corrigimos a matéria.”

Mesmo após a correção feita pela Agência Brasil, as informações continuam divergentes, embora representem uma melhor aproximação. “O índice avaliou 7.576 cursos, sendo 4.703 em instituições particulares e 2.873 em unidades de ensino públicas. Desse total, 4.403 estão em universidades (2.642 em públicas e 1.761 nas particulares), 2.245 em faculdades e 928 em centros universitários”.

Tanto na versão original da matéria publicada pela ABr, referente ao número de universidades, quanto à correção feita, informando o número de cursos, as informações ainda divergem da exposição feita pelo ministro, que deixa claro que essas cifras não se referem nem ao número de universidades, nem ao número de cursos, mas às 7.576 Unidades de Cálculo que, no Conceito Preliminar de Curso (CPC) de 2011, abrangem 8.665 cursos em 1.387 instituições de educação superior, incluindo universidades, faculdades e centros universitários.

O que nos chamou a atenção, no entanto, foi o fato de a Diretoria de Jornalismo corrigir os dados, mas deixou por conta do MEC, cujos dados originais, de acordo com a Dijor, “estavam corretos”, como depois passaram a ser “corretos” os dados divulgados na revisão, apesar de ambas as versões divergirem das informações que aparecem na apresentação do ministro. A resposta da Dijr demonstra que, pelo menos neste caso, no que diz respeito a sua concepção do escopo da responsabilidade da empresa pela transmissão de informações precisas, foi a fé absoluta em uma das fontes sem atentar para a possibilidade de divergências. Neste caso, é sempre importante checar as informações, ainda que sejam de fontes autorizadas. A responsabilidade do jornalista é maior que a responsabilidade da fonte.

Boa leitura!

A coluna publicada no dia 7/1/2013 foi substituída por esta versão, modificada e atualizada, às 16h07 do dia 8/1/2013