Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Pelos menos 360 mil brasileiros desconhecem que sofrem de uma doença genética responsável por elevar os níveis de colesterol no sangue, aumentando em até 30 vezes o risco de terem problemas cardíacos, mesmo na juventude. O alerta é do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas de São Paulo, que dispõe de um programa que rastreia o código genético de pacientes com suspeita de terem a doença, a hipercolesterolemia familiar. Para marcar o Dia Mundial do Coração, celebrado amanhã (29), o instituto fez hoje (28) a dosagem instantânea de colesterol de centenas de pessoas na capital paulista.
Há apenas dois meses, a técnica em enfermagem Natércia Barbosa, 35 anos, foi diagnosticada com hipercolesterolemia familiar. “O meu nível de colesterol oscilava. Já minha mãe fazia tratamento há mais de oito anos e, mesmo usando remédio, era difícil controlar. Fizeram a análise do DNA dela e viram que se tratava de uma doença provocada pela mutação de um gene”, relatou.
Após a descoberta do diagnóstico da mãe, Natércia, as irmãs e as tias foram convocadas pelo Programa de Rastreamento Genético de Hipercolesterolemia Familiar do Incor, o Hipercol Brasil. As análises mostraram que duas mulheres da família também têm a doença.
De acordo com o cardiologista do InCor, Raul Dias Santos, quando a doença é identificada em algum membro da família, é preciso investigar, porque os demais têm 50% de chances de sofrerem também da doença. “Colesterol alto não apresenta sintomas. Muitas pessoas têm a doença por toda a vida, mas não são diagnosticadas. Nossa campanha é para que as pessoas tenham consciência de que o colesterol alto pode ser de família e que ele está associado à um risco precoce de doenças do coração”, explicou.
Criado em 2009, a meta do Hipercol Brasil é identificar todos os brasileiros que tenham a doença. Estima-se que um em cada 500 brasileiros sofre de hipercolesterolemia familiar. No site do programa, os interessados em saber se têm a doença preenchem um questionário e podem ser convocados pelo InCor. Mesmo quem mora em outro estado, o instituto envia kits para coleta do material genético.
Raul Santos explica que o tratamento é a base de estatina, substância que reduz os riscos de infarto e derrame cerebral. “O paciente vive exatamente como alguém que não tem colesterol alto”, destacou o médico.
Natércia contou que se não tivesse descoberto a doença, poderia ter doenças cardíacas graves nos próximos anos. “Fiquei assustada com o diagnóstico, mas pelo menos sei como tratar. Agora meu filho [de 16 anos] também terá o DNA mapeado”, disse a técnica em enfermagem.
Um aliado importante é a adoção de hábitos saudáveis, como alimentação balanceada e atividade física. “Para quem não tem a hipercolesterolemia familiar, esses hábitos, muitas vezes, são suficientes para prevenir e tratar o colesterol alto”, disse Santos. O fumo e a ingestão de alimentos com gordura saturada, por exemplo, contribuem para aumentar os riscos.
As medidas de prevenção são observadas atentamente pelo administrador esportivo, Gustavo Harada, de 29 anos. Apesar de jovem, o nível de LDL (colesterol ruim) do administrador está no limite. “Fiz outro exame há poucos meses e já havia dado um nível intermediário”, relatou. O exame mostrou taxa de colesterol total de 210 miligramas por decilitro de sangue, considerada no limite que é a partir de 240. “Meu pai tem colesterol alto. Tento prevenir controlando a alimentação e fazendo exercícios.”
Os pacientes que apresentaram colesterol total acima de 240 miligramas por decilitro de sangue nos testes feitos pelo InCor foram encaminhados aos postos de saúde para bateria de exames mais detalhados. Depois dos testes, eles poderão ser convocados para o mapeamento genético.
Edição: Carolina Pimentel