Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Os indicadores de qualidade nas emissoras públicas foram o tema de um seminário realizado hoje (28) pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), transmitido ao vivo pela internet. O debate foi em torno da publicação Indicadores de Qualidade nas Emissoras Públicas – uma Visão Contemporânea, lançada durante o seminário pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
A publicação lista cerca de 200 sugestões de indicadores, que vão desde o grau de satisfação da audiência até o controle de qualidade das reportagens produzidas, passando por critérios de transparência e independência editorial e acesso ao sinal.
Participaram da discussão dois dos três autores do texto, Eugênio Bucci, ex-presidente da Radiobras, que deu origem à Empresa Brasil de Comunicação, e Marco Chiaretti, jornalista especializado em comunicação digital, além do presidente da EBC, Nelson Breve, do professor Murilo César Ramos, da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília e também membro do Conselho Curador da empresa, e a secretária de Audiovisual do Ministério da Cultura, Ana Paula Dourado Santana.
“O que não pode ser medido não pode ser avaliado”, disse o presidente da EBC. Para ele, os indicadores serão úteis na finalização do planejamento estratégico da empresa para os próximos dez anos.
“O planejamento estratégico precisa de objetivos, metas e indicadores. Aqui estão indicadores que podem fazer com que a gente desenhe um mapa para saber se está no caminho certo, ou para saber é preciso fazer ajustes, se é preciso correr mais, corrigir os rumos... É fundamental um trabalho como esse de indicadores, não só para nós, mas para toda comunicação pública”, afirmou Nelson Breve.
A complementariedade dos sistemas de comunicação (privado, público e estatal, conforme previsto na Constituição Federal) também foi avaliada pelos debatedores. “A TV pública e a comercial são gêneros da mesma espécie”, disse Murilo Ramos. Já Eugênio Bucci destacou que “as emissoras comerciais [sozinhas] não dão conta do debate saudável em uma democracia”.
A diferença entre os tipo de comunicação faz com que alguns teóricos brasileiros e estrangeiros defendam o conceito de jornalismo público como uma forma mais engajada de noticiário e com foco na cidadania, mas os debatedores discordaram. “O conceito de jornalismo público é muito vazio”, criticou Bucci. “Jornalismo só tem um”, acrescentou Marco Chiaretti, ao lembrar que jornalismo é aquilo que se conta, sem que necessariamente queira revelar, como ocorre com o anúncio publicitário.
“Jornalismo público é uma tautologia”, disse Murilo Ramos, ao assinalar que a expressão é repetitiva (pois jornalismo é uma atividade pública) e que “o conceito consagra a ideia de que há jornalismo não cidadão”, um entendimento, segundo ele, que pode “criar guetos”. Para esclarecer sua posição, Ramos mencionou o livro A Regra do Jogo, do jornalista Cláudio Abramo (morto em 1987), que defendia não existir uma ética específica para a profissão. “A ética do jornalista é igual à ética do marceneiro”, ressaltou.
Um aspecto que chamou a atenção no debate foi a necessidade de autonomia das emissoras públicas de televisão. “Só podemos falar em comunicação pública quando não está sujeita a uma autoridade externa”, afirmou Bucci. Ele defende que a direção da EBC não mais seja escolhida pela Presidência da República e que empresa seja vinculada ao Ministério da Cultura. “As atribuições da Secretaria de Comunicação [da Presidência], às vezes, podem guardar conflitos”, explicou Bucci.
Edição: Nádia Franco