Governos e setor privado precisam avançar em desenvolvimento sustentável, dizem especialistas

11/06/2012 - 19h21

Carolina Gonçalves
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, tem que ser mais do um espaço de conceito e filosofia na opinião do escritor e engenheiro Fernando Almeida. O autor do livro Desenvolvimento Sustentável 2012-2050, que participou da Rio92, disse que os países avançaram pouco nestes últimos vinte anos na consolidação de um novo modelo econômico que considerasse os riscos reais da degradação ambiental para o desenvolvimento do mundo.

“A percepção dos grandes pensadores é a de que regredimos. A maioria dos indicadores ligados ao desenvolvimento sustentável, como a dos animais em extinção, a qualidade da água, a miséria acirrada com crise de 2008, se tornaram piores e mais preocupantes”, disse. Para o engenheiro, os chefes de Governo que vão participar da conferência precisam definir projetos que realmente saiam do papel e tenham escala capaz de provocar transformações.

“Podemos dizer que os conceitos avançaram na mídia, na academia e entre algumas organizações da sociedade civil, mas não atingiu as lideranças empresariais ou governamentais. O debate de 1992 não se reverteu em projetos de desenvolvimento sustentável que tirasse a Amazônia de risco, ou que revertesse a extinção dos corais da Austrália, ou ainda que extinguisse a pobreza na África”, avaliou Almeida.

Um dos objetivos da conferência que ocorre no Rio de Janeiro, entre os dias 13 e 22 de junho, é avaliar o que foi feito pelos países desde a Rio92, que resultou na assinatura de importantes acordos como a Agenda21, um documento que orientava ações para um novo modelo de desenvolvimento que reduzisse os impactos ambientais. Para Fernando Almeida, a Agenda21, que deveria ser adotada por todos 110 países que participaram da convenção, “ficou na retórica”.

O escritor também não considera que as Convenções de Biodiversidade e a de Mudanças Climáticas, da Rio92, resultaram em avanços. “Em relação à questão do clima, países como os Estados Unidos continuam sem ratificar acordos e continuamos sem um posicionamento. Nada substitui o Protocolo de Quioto e, inclusive o Brasil se apresenta de forma muito rarefeita em relação aquele documento, em uma posição irresponsável. Não é porque naquela época o país deixou de ser apontado pela poluição que pode justificar esse posicionamento hoje”, disse.

Cláudio Maretti, líder da Iniciativa Amazônia Viva e superintendente de conservação da organização não governamental WWF-Brasil acredita que os governos tentaram implementar as medidas, mas não conseguiram concluir bem as lições, assim como o setor privado. Segundo ele, os “agentes econômicos estão devendo muito nesta mudança por um novo modelo de desenvolvimento”.

Para Maretti, a implementação de uma economia verde é uma das maneiras de compensação desse atraso. O conceito é um dos resultados que se esperam da Rio+20 e ainda levanta polêmica, como temores sobre possíveis ameaças que esse modelo poderia trazer ao comércio internacional.

“O fato é que a economia tem que trabalhar para o desenvolvimento sustentável. As dimensões [econômica, social e ambiental] têm que vir juntas. Temos que produzir alimentos porque a população está crescendo, mas, se produzir, sem considerar a natureza estamos gerando uma dívida que será cobrada no futuro”, avaliou Maretti.
 

Edição: Rivadavia Severo